Procurar:

Sobre o adaptar a uma realidade diferente*

Share it Please

* Ilídio Pina escreveu um texto na qualidade de Amigo do 3vial e é o sexto participante desta iniciativa:

713535_bf5f_625x1000

A vida oferece-nos oportunidades únicas de cruzar conhecimentos, cultura, costumes, etc. Claro que isso é bom, mas nem sempre o que se ganha é suficiente para compensar o que se perde por estar tanto tempo fora de casa, neste caso não há um balanço fechado (o que entra é igual o que sai). Foi bom ter saído de “baxu saia de mamá e pé de calças de papá”, isso fez de mim a pessoa que sou hoje, capaz de decidir por mim, onde fraquejar é uma coisa rara.

Quatro anos fora de casa. Já tenho uma história para contar. Apesar das semelhanças entre os dois países (Cabo Verde e Portugal) no início foi muito difícil. Só tinha a voz de uma amiga a dar-me força. Para complicar mais a situação, no terceiro dia na terra de Camões tive o azar de encontrar a pessoa mais imbecil que alguma vez falou para mim, se este pudesse mandava-me embora para ÁFRICA, só por causa da cor da minha pele. Para superar isso e seguir em frente encontrei na praxe aquilo que precisava, ali descobri que as pessoas que descriminam os outros por serem fisicamente diferentes seriam uma minoria, não suficiente para me fazer desistir dum sonho que tinha começado a realizar-se.

À medida que passava o tempo conheci pessoas fantásticas, que me aceitaram no seio de um grupo e com estes construi um sentimento de amizade, isso reflecte-se hoje no meu percurso académico, no que sou como pessoa, etc… Mas como sempre, quando se ganha por um lado perde-se por outro. Tive que Pagar um preço, fechei as portas a algo que parecia ter pouca importância e mais tarde vim descobrir que tinha a sua importância, mas para mim já era complicado correr atrás. A partir daí foi tudo mais fácil, passado pouco tempo sentia-me quase em casa. Como amizade é capaz de mudar uma história, levar a um final diferente daquele que os Deuses escreveram no livro do destino. À chegada o que tinha a perder já tinha ficado para trás, na hora da partida vou deixar quase tudo que ganhei durante este tempo. Por isso, se o começar foi difícil, o adeus será pior ainda. Provavelmente daqui a um ano vou voltar para meu Cabo Verde, quando penso uma alegria enorme toma conta de mim, mas ao mesmo tempo sinto que estarei a deixar aqueles que foram até agora os melhores colegas de turma que já tive, e em particular pessoas muito importantes vão ficar para trás. Aqueles que foram, são e vão continuar a ser grandes amigos meus.

2 comentários:

  1. Ivo (Timones)6:38 da manhã

    Olá Ilídio.

    Tenho de felicitar-te pelo teu texto, muito bem escrito e que em alguns parágrafos mostra que não é por algo de mau acontecer que se deve desistir.
    Imagino que não tenha sido fácil a adaptação a Portugal. Mas como conseguiste fazê-lo tão bem, acho que não só o meio envolvente tenha sido determinante para a tua integração, como acho que a tua personalidade ajudou bastante para que possas sentir-te tão bem aqui. Há que dar o mérito por te teres aguentado, apesar de nem sempre as coisas parecerem correr a nosso favor.
    Acho que o mais importante é que tens dois lugares a que podes chamar 'casa' e de certeza que em ambos tens pessoas que te receberão sempre de braços abertos.
    Da minha parte podes contar sempre com isso.

    Aquele abraço,
    Ivo (Timones)

    ResponderEliminar
  2. Caro Ilídio,

    Obrigado por teres escrito este texto, que confesso ser comovente, pela forma como eu, e certamente outras pessoas que te conhecem e o puderam ler, se sentem tocadas em 1ª pessoa por aquilo que referes.

    A minha passagem pelo Brasil mostrou-me o quão importante é, para quem é estrangeiro, conseguir estabelecer boas amizades, por tudo o que isso implica em termos de adaptação e sentimento de conforto no país.

    Por outro lado, para os Portugueses que contigo fizeram uma amizade, certamente proporcionaste e continuas a proporcionar uma oportunidade para enriquecer culturalmente e para aprender coisas novas através da perspectiva de alguém que não é de cá.

    Pessoalmente, considero-te um ser humano extraordinário e um indivíduo lutador pelos seus objectivos como poucos.

    Um forte abraço,

    Marcelo Melo

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...