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Sobre a obesidade mental

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L'animal introverti - Philippe Brodzki (2016)

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Numa quadra de indiscutível apelo gastronómico um pouco por todo lado e em especial no nosso país, submeto este texto procurando tirar partido das recentes experiências gustativas que em geral cada pessoa que ler este texto terá tido nos últimos dias.

Quando cada um de nós se olha ao espelho e nele se contempla, como acontece diariamente e com mais intranquilidade após o Natal, é cada vez mais comum verificar um afastamento da forma e peso ideais, um acumular de volume em zonas que se pretendiam muscularmente esculpidas. Acredito que, salvo para aqueles para quem a visão só é perfeita quando auxiliada por utensílios óticos, não há como ignorar ou não perceber qual o estado físico em que nos encontramos quando vamos à procura de o saber confrontando-nos com um espelho.

Todavia e aqui é que surge a ideia principal deste texto, qual deve ser o espelho a que um indivíduo possa recorrer para aferir um equivalente ao seu peso físico, que eu designaria por peso mental? Sou levado a perguntar-me ocasionalmente que, se na nossa sociedade a obesidade física transcende já o problema da fome em número pessoas afetadas, não estaremos também a sofrer de uma problemática coletiva homóloga em termos mentais. Relativamente à afluência de informação e conteúdos, é tentador partilhar a sensação de que poderemos estar a sofrer de uma obesidade desse género, um excesso de volume em determinadas regiões da mente, que nos poderão causar disformidades em tudo semelhante à deformação física.

Sendo este não mais do que um palpite ou desvario imaginativo da minha parte, a clarificação do lastimável ou inestimável valor destas possibilidades está suspensa pela incapacidade de vislumbrar e eleger um espelho intelectual válido que pudesse ser o tira-teima do assunto. Alguém mais atento poderia indicar-me os testes de QI ou cognitivos em geral, como candidatos a espelhos desta teoria, mas ainda assim não me apaziguaria na minha busca. A mente é mais do que isso.


Publicação original: 12/2009
Revisão: 06/2019

1 comentário:

  1. Não creio que soframos de obesidade intelectual. Embora se consuma imensa informação hoje em dia, ela é, maioritariamente, de fraco índice energético. Come-se muita palha e muito pouca proteína. Suponho que existam espelhos que nos mostrem se estamos gordos ou magros de intelectualidade, mas para esses espelhos funcionarem é necessário saber utilizá-los, coisa que a maioria ainda não aprendeu. Usam demais os outros, aqueles que mostram a máscara engravatada, ridiculamente produzida, que todos os dias pela manhã vestimos e que nos preenche o minúsculo ego, escondendo assim a magreza intelectual de que somos feitos (felizmente com excepções obviamente).
    Com amizade

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