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Sobre o estado do tempo na literatura

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Porventura sugestionado pelo que se tem falado sobre o clima em virtude de alguns desastres naturais, ou então devido ao frio e chuva que têm imprimido a este inverno o título de inverno mais rigoroso desde há muito tempo, achei-me a reflectir sobre a presença do clima e do estado do tempo na literatura.
Para começar, parece-me que para aqueles que escrevem histórias com algum enredo, a referência ao estado do tempo acontece com facilidade e independentemente de estarmos perante um escritor profissional ou um estudante de ensino secundário. Isto prenuncia duas coisas: a primeira é que o estado do tempo parece ter mais importância para nós, quando descrevemos cenas da vida, do que nos quer parecer, e a segunda é que do ponto da fluência da escrita, a referência às condições meterológicas traduz-se num alvo fácil. Para complementar esta última ideia e eventualmente dotá-la de mais clareza, refira-se a forma como o estado do tempo ora é utilizado para iniciar um capítulo como surge para rematar um capítulo já volvido.
Fico com a impressão, ao olhar panoramicamente sobre o assunto, que também na literatura há momentos de conversa de circunstância daqueles que se tem num elevador, circunstâncias de muito pouca valia literária, em que o autor se obriga a entrar numa frase ou parágrafo sobre o tempo apenas para desanuviar o momento.
Apesar de poder aparentar tratar-se de um pormenor à laia de devaneio, acredito que existiria aqui matéria para se analisar a literatura num quadrante incomum, de resultados pouco previsíveis. Confesso que apesar de ter levantado este assunto, não me sinto capaz de produzir fielmente uma explicação para este padrão singular.
Por muito que tente apontar uma, perco-me na riqueza de contextos em que a citação do estado do tempo ocorre. Sei, porém, apontar uma única diferença face aos desenvolvimentos recentes do mundo real, é que no mundo literário pouco ou nenhuma atenção se dá às catástrofes. Preferimos condições menos agrestes do tipo convencional.

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