Procurar:

Sobre a cacofonia novelesca dos comentadores

Share it Please

1000498_bd44_625x1000 A cada nova noite, os aspirantes a intelectuais ligam os seus televisores como se de um ritual se tratasse e juntam-se aos intelectuais inveterados que os ligaram bem mais cedo, para ambos assistirem às novelas que os canais de notícias do serviço de televisão por cabo põem no ar.

Sinceramente, quando a cada dia seguinte se comenta no círculo de amigos se se viu fulano de tal a comentar sobre isto, ou se a essa hora se estava a acompanhar o debate televisivo sobre o debate na assembleia, a mais não cheira do que a telenovelas em formato de política e de assuntos alegadamente com interesse nacional.

Procurar com este texto falar por cima dos que já tagarelam diariamente nos canais de vocação estritamente noticiosa, talvez seja participar no cúmulo de qualquer coisa má, mas permitam-me que me questione, do baixo da minha sabedoria, porque motivo os comentadores não se associam em termos de opiniões e não concretizam num documento ou tomada de posição pública, oficial e concertada, todo aquele brilhantismo que emana das suas teses explicativas?

Quando há gente demais a falar, é provável que a cacofonia se instale e que se justifique a adjectivação que dá nome a este blogue: trivial. No meio do caos que é cada noite de comentários, isto se o serão for dedicado em regime de exclusividade, a trivialidade só pode mesmo prosperar.

Se ser político é mau, permitam-me dizer que ser-se comentador é péssimo. Sobretudo quando estamos perante gente nova, com dotes intelectuais capitalizáveis pelo país em termos de elite de acção e decisão. O comentário é mais justificável por parte dos velhos. Agora gente que se resigna nas suas aspirações e crê que formular todas as noites considerações, planos, metas, sinalizações e esquemas, constitui o expoente máximo da sua cidadania e valor profissional, acho que pode ser doentio. Essa malta lembra-me a produção “O Rei do Gado”: é mesmo de uma novela que se trata.

3 comentários:

  1. Meu caro Marcelo Melo
    na verdade, sempre que termina um debate, permanentemente me vem a sensação de que fui pessimamente informado. Questiono-me se não terei eu grande dificuldade em assimilar o discurso dos que se dizem pensadores...mas, pelos vistos o defeito não reside em mim.
    A medíocre capacidade de comentar está ao nível da capacidade de governar, cá pelo nosso Portugal.
    Retive a sua frase «ser político é mau». Eu sei o que pretende dizer. Mas pegando na parte prática da questão, penso que, pelo contrário, ser político é o que de melhor pode acontecer a alguém. Não se tem visto nenhum político nas ruas da amargura, mesmo que a sua política o seja. No entanto, todos os dias, a toda a hora, se encontram grandes profissionais deste país, exemplares profissionais, a viverem uma vida de lama. Este país está a tornar-se um enorme lodaçal de compadrio, em que no lodo desejado chafurdam os que aprendem pelo mesmo livro: o livro da hipócrisia e falta de escrúpulos. E esses são os políticos e afins.
    Com amizade

    ResponderEliminar
  2. Caro Poeta do Penedo,

    Subscrevo o seu comentário.

    Gostava de poder contribuir para a política nacional, mas tenho pavor de entrar em lógicas partidárias para as quais tenha de abdicar de certos princípios que acredito serem vitais para ser um bom ser humano.

    Sobre os comentadores, acrescento que em Portugal o brilhantismo intelectual é alcançado logo que se apareça na televisão de gravata e se diga qualquer coisa.

    Um abraço.

    Marcelo Melo

    ResponderEliminar
  3. o que eu estava procurando, obrigado

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...