É típico ouvir-se, quando não dizer-se, que determinada região é terra de boa gente, numa genuína e benévola intenção, apesar de falsa, de elogiar e confortar aqueles a quem a referida região suscite algum tipo de vínculo.
Confesso que não sou grande apreciador da natureza deste tipo de elogios, prefiro que se diga que se tem bons ou grandes amigos na Madeira ou Trás-os-Montes, e se desista deste tipo de generalizações que desaguam num descrédito digno de conversa de circunstância. O que está implícito neste tipo de afirmações é o resumir-se regiões àquilo que delas se conhece, e procurar-se generalizar admitindo que todos por lá serão como o amigo que temos e que é natural desse sítio, um fulano que até é bom tipo.
Bem sei que perscrutar estas intervenções é dar-lhe porventura mais atenção do que lhes é devido. No entanto, não deixa de ser mais um exemplo da utilização frases ocas e vãs. Repare-se que é bem diferente afirmar que Trás-os-Montes é terra de bom vinho, ou que a Madeira é terra de boa fruta. Nestes casos, é legítimo o elogio feito olhando para aquilo que se destaca mediaticamente de uma região. Ninguém duvida que a Bairrada é terra de boa comida, porque é imediato constatar essa legitimidade.
Uma fonte repetente deste tipo de artifícios de louvor regional são os programas da comunicação social que envolvem contactos telefónicos com cidadãos dispersos pelo país. Muitas são as ocasiões em que se rematam cumprimentos ou se lançam as bases para um conversa posterior recorrendo a estes galanteios esteticamente melódicos.
Espero com este texto contribuir para que se esteja mais atento a respeito da utilização desta solução discursiva, na medida em que ela aparenta situar-se num grau de automatismo impensado que a coloca no pedestal de discurso de senso comum.
Perdoar-me-ão a deselegância, se disser que qualquer região é terra de bandidos, de criminosos, de corruptos, de esfomeados, de pedintes. Ao dizê-lo, tenho tanta razão como os que dizem nesses sítio é só boa gente. É mesmo?
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