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Sobre as fases intensas de viver

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Nem sempre na vida que levamos há tempo para reflectir sobre nós mesmos e o nosso contexto e papel no mundo. Para mim, que estou habituado à reflexão e não arrisco viver sem me pensar - vá-se lá saber porque motivos conjunturais - é sempre perturbador sentir-me prolongadamente numa fase da vida pródiga na falta de condições para a reflexão.

A grande verdade é que a reflexão prolongada e ininterrupta talvez seja um paradoxo, porque aquele que só reflecte afasta-se a cada reflexão da humanidade e da vertente prática da vida e das coisas. É por este motivo que se costumam utilizar com grande regularidade expressões como "na vida real", "no mundo real" ou um simples "na prática".

Pois bem, na vida real, aquela onde as tarefas sucedem-se e se intercalam com uma força de lei, a reflexão tem pouco espaço, salvo quando o medo de errar, falhar, perder ou sofrer é tal que accionamos em nós a ferramenta da ponderação. Porém, não só por necessidade a reflexão irrompe após ausência prolongada: esta pode igualmente florescer a partir de uma vontade segura de disfrutar do que se está a viver. Poder parar intencionalmente e começar a pensar no que nos está a acontecer, nas condições em que estamos, no tipo de singularidade que a nossa vida tem face à das demais pessoas que nos rodeiam.

É precisamente com este intuito que me dediquei a este texto, como forma de me forçar a perceber que o facto de ter tido a oportunidade de estar a viver na Bélgica enquanto faço ao estágio final do meu curso, está a conferir inesperadamente à minha vida uma série sensacional de oportunidades e experiências. De uma vez, enfrentar a experiência de viver autonomamente, de ter de falar outra língua para comunicar, de viver com um orçamento definido, de trabalhar como um autêntico profissional contratado, de poder viajar e conhecer cidades e países com culturas e envolvências notavelmente distintas, tudo isto tem roubado tempo às reflexões que normalmente produzia, mas tem incrementado a intensidade do que se vive.

Posto isto e dado que tudo tem um fim, nada melhor do que procurar estar consciente do que se vive na própria fase em que se vive, para que o balanço global de uma vida até ao momento não seja um inventário meramente assente no que ficou marcado na memória, mas o produto de uma actividade de análise periódica levada a cabo regularmente.

Saliento uma vez mais que é necessária uma dose de disciplina para que este tipo de consciencialização seja feita, visto que a intensidade com que se pode estar a viver a vida é forte demais para conceder momentos de reflexão, os quais custam naturalmente tempo, energia e sobretudo motivação.

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