O contacto em primeira pessoa com os belgas e a descrição que fazem do país, permite olhar para Portugal com outros olhos e quiçá encontrar a necessária confiança para acreditar que Portugal tem futuro. E porquê? Precisamente porque o problema português (cuja compreensão poderá ser facilitada por uma recomendável visualização dos documentários de António Barreto sobre as transformações vividas em Portugal desde os 25 de Abril e pelo pertinente programa Plano Inclinado) não floresce de desiquilíbrios culturais que opõem cidadãos uns contra os outros, como acontece na Bélgica e em países com facções religiosas ou independentistas vincadas.
Nesta perspectiva, Portugal está longe de ser o miúdo incorrigível que nem repetindo várias vezes o mesmo ano escolar conseguirá aprender e progredir. Não, Portugal não está ferido de futuro a esse ponto. Portugal será antes o aluno que de repente se viu com condições materiais de progredir facilmente e acabou por se iludir com o facilitismo gerado pelo dinheiro fácil e pela conjuntura favorável que viveu em certo período político e económico que sucedeu a uma amordaçante ditadura.
E nesta metáfora escolar, Portugal iludiu-se porque ganhou inércias de acomodamento, preguiça de levantar a cabeça e lutar por melhores resultados cada vez mais. Portugal é então o aluno desmazelado, aquele que se diz que tem potencial para mais, mas que, por falta de método e disciplina, se deixa cair na mediocridade.
Afirmo isto de Portugal porque reparo que a Bélgica, tendo indústria e capacidade de gerar riqueza, não consegue ter governo porque o povo está terrivelmente bipartido devido a motivações culturais. A Bélgica sabe que o seu problema não é deixar de ser desmazelada apenas, o seu problema é apaziguar o seu povo, e isto é um problema bem maior que o nosso.
A crise vivida, ou melhor, a Crise, poderá ter o condão de abalar Portugal com força suficiente para acordar e traccionar o país para outra postura, outra forma de estar que não a do aluno desmazelado mas com potencial.
Acima de tudo, e ao contrário da Bélgica, só dependemos de uma mudança da atitude. Parece difícil? Há quem dependa de muito mais do que isso.
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