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Sobre o epíteto “geração à rasca”

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Muitos daqueles que se dizem à rasca não estão em condições de igualdade com outras faixas etárias bem mais à rasca. Estar à rasca não é um produto exclusivo da dificuldade para viver uma vida condizente com o grau de formação superior alcançado, vulgo ter emprego e ser pago em boa conta.

A meu ver, estar à rasca compreende isso mas muito mais. Nós, jovens, beneficiamos hoje de uma oportunidade que muita gente gostaria de ter: a chance de ter a vida na mão e estar ainda no processo de decisão daquilo que será o rumo da nossa vida. Poderemos nós ignorar as pessoas de outras gerações que, fruto da facilidade e estabilidade da altura, fizeram investimentos de aquisição de casa ou apartamento, e se vêm agora sem emprego aos 40/50 anos e em risco severo de não honrar os compromissos? E o que dizer daqueles que para além disso somam o facto de ter decidido ter um filho (dois?!) e agora sem emprego e com encargos bancários estão à deriva para alimentar a sua prole?

Nós, jovens, podemos estar a experienciar injustiças e agruras várias, mas temos uma grande, senão gigante, sorte: encaramos hoje o mundo sem compromissos estabelecidos com base em pressupostos resultantes de conjunturas mais risonhas que a actual. Podemos não pedir 100 mil euros ao banco e estruturar a vida muito mais para a gestão da incerteza, para o viver o momento. Podemos aproveitar as escaldadelas (exemplos práticos) que outras gerações estão a enfrentar e decidir diferente, escolher outras vias. Basta-nos olhar para os que já estão mais à frente etariamente e projectar como poderemos evitar os problemas que estão a enfrentar.

Mais, em muitos casos temos a sorte de ter pais que se atravessaram para comprar casas e que a todo custo procurarão honrar o compromisso bancário que encetaram: podemos contar com eles e quem sabe até ajudá-los nesses encargos em troca de continuarmos a partilhar todos a mesma casa.

O tempo, aliás, está favorável a associações, porque a divisão de encargos e partilha recursos são soluções avisadas e economizadoras. Contudo, tais associações dependem sobretudo daqueles para quem é mais fácil decidir-se por esse caminho: nós, os jovens à rasca.

E se nos podemos queixar de fracas oportunidades ou má relação remuneração/esforço, pensemos numa de duas realidades: a dos que estão pior e trabalham para comer ou nem isso, ou que se pense na facilidade com que hoje é possível encarar o mercado de trabalho à escala mundial, facto que não era assim no passado. Acima de tudo, nós jovens temos de ser sensatos no que reclamamos, porque não é justo fazer uma birra perante problemas que também afectam os outros. Já não somos crianças.

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