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Sobre a gestão da informação noticiada

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Por mais bizarro ou surpreendente que possa parecer, a imprensa nem sempre existiu. Imagine-se ser cidadão de um país onde não se noticia nada salvo pela via da transmissão boca a boca, que tanto serve para boatos como para notícias, para verdades como para mentiras.

É incomensurável o papel da imprensa na liberdade e também no destino político, económico e social dos Estados, porque sem ela o homem sente-se pequeno perante problemas que acontecem longe do sítio onde está e seu âmbito de participação, pelo que só a muito maior custo conseguirá obter uma perspectiva global das coisas tal como é desejável para poder participar civicamente nos destinos do país e na compreensão do mesmo (e até de si mesmo).

Com o silício, o plástico, a rede telefónica, os satélites e a fibra óptica, entre outros, surge a era em que imprensa consegue ter acesso a duas coisas: primeira) praticamente em tempo real conseguir noticiar factos “relevantes”; segunda) numa só hora de actividade é capaz de gerar uma torrente de informação noticiosa e divulgativa que inunda o cidadão de comunicação oral, escrita, multimédia, etc.

A consequência mais directa desta realização é que o cidadão de hoje tropeça e chafurda nas notícias, tal a prontidão com que estas irrompem onde menos espera: os telemóveis são a última conquista das fontes noticiosas, mas muitos mais virão certamente.

Ora o cidadão instruído, que na maior parte da sua existência convive apaziguadamente com os serviços noticiosos e com as notícias que diariamente percorrem o globo não sei quantas vezes por segundo, depara-se, quem sabe, um dia, com a terrível pergunta que certamente arrepiará qualquer editor chefe de um serviço informativo: qual o valor acrescentado que tanta informação tem para a minha vida? E como cogumelos podem surgir subsequentes questões: preciso eu de estar “tão” informado assim? Quem determina que o homem moderno tenha de saber tudo sobre quase tudo que se passa? Não estarei a perder a capacidade de reagir a uma notícia quando ela requer efectiva reação devido à aniquilante torrente de informação que vem ao meu encontro todos os dias? Como é que seria a minha vida caso reduzisse para um terço o meu contacto com notícias e informação putativamente “relevante”?

É certo e sabido que o mundo não se deterá no seu ímpeto informativo pelo que é provável que qualquer contemporâneo cidadão tenha de desenvolver critérios de consumo de informação, critérios de absorção de notícias, num exercício que será um imperativo para se manter informado e para não resvalar para uma situação limite de absoluto descrédito pela imprensa. O papel da imprensa é cada vez menos o de gerir a informação, ela está a passá-lo para nós, pelo que esse é cada vez mais o nosso papel (in)voluntário.

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