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Sobre o consumo contínuo por capricho e vaidade

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A horas da apresentação de mais uma versão de um balado dispositivo multimédia de comunicação móvel, aproveito o fôlego do evento para partilhar uma preocupação pessoal e crescente, relacionada com os fluxos materiais e a forma como o ciclo de vida dos materiais não está, para grande mal da natureza, da economia e da humanidade, a fechar-se.
É um risco falar sobre este assunto tendo a apresentação do dito dispositivo como plano de fundo, já que poderei fazer com que este aparelho em particular se torne no bode expiatório a que me socorrorei para relatar a minha aflição ecológica, mesmo que involuntariamente. Sirvo-me da ocasião simplesmente porque sendo este um equipamento icónico do tempo que vivemos, talvez sirva bem para ilustrar o modo displicente como consumimos insustentavelmente recursos.

Desde 2007 que é lançada anualmente uma nova versão deste aparelho, avizinhando-se a quinta edição. Do ponto de vista da empresa, as versões mais velhas foram sendo descontinuadas em detrimento das mais novas, o que significa que a empresa não está a produzir 5 versões de um aparelho. Do ponto de vista do comprador há quem esteja a fazer exactamente o mesmo: comprando novas versões e descontinuando em termos de uso e valia as velhas.

A nossa febre pela novidade está longe de ser acompanhada pela preocupação com a reposição dos recursos. Hoje em dia, compra-se um aparelho destes sobretudo por vaidade, até porque muitas vezes a versão anterior, que há um ano atrás tão bem nos servia o ego, não ficou assim tão incapacitada do ponto de vista funcional para merecer tão significativa despromoção. Um ano é tão pouco para um equipamento de tecnologia de ponta, que é para mim incompreensível  que se deite fora sem apelo nem agravo produtos tão sofisticados.

Sei que uma estratégia encontrada pelo mundo desenvolvido para atenuar esta questão passa por comercializar os produtos descartados pelas sociedades ávidas da novidade para mercados secundários geograficamente localizados em países pobres. Em Moçambique, por exemplo, presenciei o modo como os telemóveis e as telecomunicações abundam mais que a comida.

Os mercados secundários saturarão um dia, se é que não saturaram já, pelo que merece perguntar: o que faremos a seguir a tanto recurso que funciona mas que ninguém quer por caprichos estéticos, estatutários ou capitalistas? Falo de telemóveis como poderia falar de carros, de roupa, de electrodomésticos, de embalagens, de comida, de apartamentos, enfim, de tudo onde o capitalismo voraz e sem regras até hoje pôs a mão.

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