Já se deu conta de como andamos desesperados por inovações que nos distingam enquanto consumidores, e por inovações que nos distingam e façam crescer enquanto economia?
Dizem muitas boas almas que no meio está a virtude, mas avisam almas não menos bondosas que geralmente quem é apanhado no meio de algo pode muito bem levar por tabela algo indesejado.
Enquanto país, fruto dos amigos europeus que fizemos e de cuja amizade desconfiamos cada vez mais (julgo ser recíproco), estamos adquirir os maneirismos que emanam dessas sociedades exemplares que rebocam não sei quantas outras como a nossa. E que maneirismo é esse? Bom, é o maneirismo provocado pela noção de que para continuar no topo (ou perto dele) só há uma solução: inovar e empreender.
O trabalho mecanizado e rotineiro, que ainda tão bem traduz a nossa realidade profissional, do construtor civil ao professor, da telefonista ao político, é o nosso actual ganha-pão ao mesmo tempo que é o centro de toda a anemia competitiva que nos diagnosticam os especialistas. O trabalho rotineiro é cada vez menos para nós, visto que o crescimento que este nos proporcionou foi como que um direito de exploração que cessou a partir do momento que a globalização pôs em pé de igualdade geográfica qualquer cidadão do planeta, ameaçando de extinção o conceito de antípodas.
Ponto de situação: fazer mais do mesmo já não chega, auferir monótona e rigidamente o mesmo não serve, permanecer mecanicamente no mesmo posto de trabalho décadas a fio não dá. Recomendação: inovar, empreender, inovar.
Pede-se aos jovens que inventem o seu futuro com base na inovação, que agarrem uns trocos disponibilizados para se fundamentar uma política de incentivo ao empreendedorismo e se lancem para aí a inovar pegado. Pede-se a qualquer um que inove no que faz, que atinja um nirvana, uma epifania, um êxtase sexual, um arroto de inspiração e que quebre paradigmas, que irrompa para um novo plano, dimensão, existência, como se tivesse chegado à civilização há minutos, proveniente do futuro.
Receio que ninguém consiga empreender e inovar sem ser criativo, tal como receio que ninguém seja criativo a ponto de ter conseguido contornar incólume o herbicida educacional que erradica a criatividade como erva daninha que em verdade não é.
Ninguém empreende, hoje em dia, sem inovar, e ninguém inova sem ser criativo. A explicação é relativamente simples: dificilmente alguém se lembra de fazer algo simples e óbvio que seja inédita e ao mesmo tempo banal, trivial. Mais do que precisarmos de ser inovadores, como se difunde por aí, precisamos de ser criativos. Este sim é para mim um bom fomento e tema para o país.
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