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No primeiro livro da sua saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, J.K.Rowling introduziu a ideia de que existem coisas, no caso referia-se à dita pedra, que só podem ser encontradas por alguém que as não deseje encontrar.
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Por requerer a identificação de um alvo, o desejo invoca ideais superiores, que o fazem parecer nobre, e num ápice os deturpa, alocando-os precipitadamente a algo em concreto que nos caiba pensar ou imaginar. Essa transfiguração de algo no seu estado puro (a felicidade, o amor, a alegria), que verte para algo mais particular, mais material, mais executável no mundo físico, é porventura inevitável, mas precisa de ser contida. Isto porque somos seres imperfeitos, repletos de vícios comportamentais e ideológicos.
Sabemos como o desejo se perfuma com dinheiro, e como nesse vínculo o dinheiro apadrinha o ego do desejo, fazendo-o materializar-se mais facilmente em elementos físicos (objectos e pessoas) que passam a ser considerados receptáculos da ideia que despoletou o desejo. Parte-se do geral, materializa-se no particular, e busca-se depois o impossível regresso ao geral. Por ser impossível é que o desejo nos leva a repetir experiências: estas são particulares demais para tocar na dimensão geral e superior a que ambicionamos.
Pela sua natureza de impetuosa concretização, o desejo torna impura a ideia que o motivou, que não tem de ser obrigatoriamente má ou condenável a priori. Na aparência de uma intensidade que alega garantir vivacidade à vida, mas em verdade se esgota rapidamente nos limites concebíveis da escala humana, o desejo sacrifica a paciência, o sentido de justiça, a ética, a disciplina física e mental, em prol de uma miragem.
Não vives melhor por muito desejar, vives somente mais intensamente. A vida não se esgota no desejar e no dar resposta ao desejado. Esta é uma tremenda lição.
Talvez seja por este motivo que os grandes pensadores e homens sempre recomendaram as mais variadas formas de abstinência, nem que temporárias, porque estas põem o desejo no seu devido lugar, e abrem assim caminho a que encontremos as pedras filosofais que só então, nesse apaziguamento do ser, se podem começar a revelar.
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