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Sobre o filme Malèna, e uma notável abordagem ao binómio amor/libido

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Maléna é uma história de amor em tempo de guerra (Itália, 2ª Guerra Mundial), que orbita em torno da personagem Malèna Scordia, a atraente e sensual esposa de um oficial italiano ausente em capanha militar. Toda a vila fala de Malèna: os homens porque a desejam sexualmente, as mulheres porque lhe reprovam conduta mas cobiçam atributos. A notícia da morte do marido altera em muito a vida a Malèna, lançando-a numa espiral rumo à desonra e miséria, até que um inesperado facto vem alterar e reconstituir-lhe a vida, a honra e estatuto que aparentavam estar irremediavelmente perdidos.

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Tenho um certo pudor relativamente aos filmes cujo objeto central é o amor ou a libido, porque na maioria das vezes o produto final é invariavelmente algo menor, excessivamente intenso ou dramático, mas a meu ver estéril em termos de aprendizagem emocional. Gosto quando um filme de amor me faz vibrar relativamente ao lado inspirador da vida (que haja beleza), e que evitar a armadilha de prender as pessoas ao problema do desfasamento entre o filme (fantasia) e a vida que têm (realidade).

Malèna (filme) lida trementadamente bem com isso, e fá-lo conjugando brilhantemente o binómio amor/libido, desde logo pelo modo como Renato Amoroso - rapazito em puberdade - fica sexualmente obcecado com as curvas de Malèna Scordia mas acaba por exibir uma bondade enorme (amor) ajudando a que a sua musa reencontre o rumo certo para a sua vida. Amoroso parte de uma atração física inicial, fá-la evoluir para um sentimento enorme ternura e comprazimento por Malêna (que me apraz chamar amor), sendo um autêntico herói silencioso para a sua musa, daqueles que vale a pena tirar o chapéu.

Mas o ato supremo de amor, surge na pessoa do marido de Malèna, que regressa inesperadamente à vila depois de ter sido dado como morte há muito. Sem casa devido à desgraça em que caiu Malèna e o país, fica a saber do rumo infeliz seguido pela sua esposa, e consegue engolir a sua honra para aceitar desposar novamente uma mulher desonrada. Eis nesta passagem uma exibição extrema de amor, assente na intensidade que também requer o perdão e valorização do belo que sempre há pessoa numa pessoa. Igual a este amor só mesmo aquele que encontrei em Anna Karenina, na personagem do seu marido, paciente e compreensivo na busca incansável do mais favorável consenso que lhe garantisse preservar a honra de marido e de Homem.

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