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Sobre a diluição das memórias à custa de um quotidiano repleto de trivialidades

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Mental Space - Heinz Aimer

Sugeri há dias, para o rodapé de um programa de tv em que se debatia a capacidade humana de recordar, que se deveria falar do problema da atual diluição das memórias importantes, vivida por todos os que se deixam absorver inadvertidamente por um quotidiano entupido por uma imensa torrente (torrent?) de trivialidades. 

A distração tende a ser tanta que só por via de embates fortes com a imperativa realidade é que, de tempos a tempos, surge uma qualquer experiência traumática com o condão de avivar a memória, em cada pessoa, para a existência de uma mente autónoma assente no livre arbítrio. Estas experiências traumáticas têm via aberta, também, para a transmissão de mensagens universais a ter por perto a qualquer momento das atividades racional e emocional, mas que são convenientemente arredadas para o sótão de nós mesmos por fraca disciplina e critérios da nossa parte. 

A maior fatia do quotidiano está hoje ligada ao domínio do medíocre, desde a comida à internet, passando pela linguagem e pelo carácter das pessoas. Vidas banais geram memórias banais, de modo que os episódios esporádicos em que a vida nos ensina algo de valor, algo a recomendavelmente a reter, acabam por desaguar, com efeito, num oceano viscoso de pasmaceira estagnante. De tudo isto decorrem, portanto, os naufrágios existenciais de muitas das almas absortas para a magia da Vida, que depois são, também de tempos a tempos, ironicamente chamadas pela sociedade democrática a votar "em consciência", convencidas de que têm uma e de que sabem perfeitamente as boas práticas para o seu salutar uso.

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