Imagem: The Pleasure of Travelling - Christian Schloe
O Epicurismo, enquanto corrente filosófica que procura a felicidade pela via do prazer, propõe um plano existencial perigoso para aqueles que lhe usurparem o sentido original. E como é fácil que isto aconteça quando as mentes estão ávidas de indevida instrumentalização e engenhosa capitalização. Enganar-se-á quem entender que no Epicurismo está em causa satisfazer o prazer a todo custo, em particular os prazeres sem outro sentido que não o da maquinal consumação do desejo sensorial.
A grande originalidade do Epicurismo - tanto quanto me é dado perceber - é que ao contrário da maioria das correntes filosóficas e religiosas que negligenciam a vida dos prazeres menores e impúdicos quase dogmaticamente, Epicuro propõe que se reconheça a existência desses prazeres e da satisfação a eles associada. Ao permitir que o Epicurista seja reconhecedor da existência desses prazeres, submete-o então ao processo de responsabilização, onde este será levado a perceber que o prazer maior a perseguir é aquele que advém da virtude, pois é o único em que anulação do sofrimento e da dor pode ser alcançada. Isto coloca o prazer ao nível do patamar alma e da mente, em detrimento do físico e sensorial.
É pois com reforçada motivação que recomendo efusivamente o Epicurismo às sociedades que tão vorazes se mostram relativamente à satisfação dos prazeres menores, finitos e inconsequentes. Falo do prazer sexual, do prazer na comida, do prazer do sofá, do prazer dos jogos, do prazer das futilidades consumidas na televisão e internet, do prazer do lucro económico. Remeto o legado de Epicuro aos que se encontram perfidamente expostos à epidemia da sede incessante de prazer não virtuoso, para que possam atingir a sua contenção e substituição pelos prazeres valem mesmo a pena. Que reflictam pois com Epicuro em como , apesar de todo prazer conduzir à satisfação, só alguns desses prazeres servirem para a meta da felicidade.
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