O filme Magia ao luar é uma lufada de ar fresco na comédia em cinema dos últimos tempos, por força de um competente argumento digno de se lhe tirar o chapéu. Woody Allen - que fez o trabalho de casa com distinção - realizou uma comédia que surpreende por roubar sorrateiras gargalhadas ao público em situações de diálogo inteligentemente esculpidas com vista a promover hipérboles discursivas por via do sarcasmo e da ironia, principalmente alicerçadas na personagem (Wei Ling Soo) do actor principal (Collin Firth).
Neste filme, há romance, há comédia e há um título bem a rigor para que nos achássemos perante o estigma/estereótipo da comédia romântica vendida que apenas entretém à custa de pílulas de sentimento a la Nicholas Sparks: nada disso. A magia e a comédia do título remetem para o tema de fundo da história - a polpa do filme - que é o binómio raciocínio / intuição (espiritualidade), cristalizado na forma de um mágico (racionalista) que procura aniquilar uma pretensa médium (imbuída de um sexto sentido).
Do embate, que o racionalista acaba por ganhar por uma nesga final de clarividência - a mente sempre consegue provar o que quer, não é? - surge a esmagadora constatação: nem o maior racionalista do mundo consegue justificar como e porquê o amor irrompe entre as pessoas menos prováveis ou justificáveis. E é com esse inexplicável fenómeno que extravasa as competências do raciocínio que a derradeira e có(s)mica prova da história confirma a existência real da magia ao luar, isto é, uma dimensão transcedental do mundo que nenhuma mente mecânica consegue beliscar, embora se atreva a fazê-lo.
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