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Sobre a prática anónima do bem, no seguimento do pagamento de propinas a um estudante universitário por parte de um desconhecido

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O recente pagamento de propinas a um estudante da Universidade do Porto por parte de um anónimo, pôs-nos a todos, feitos formiguinhas curiosas, a comentar o insólito feito à luz de uma sociedade onde aparentemente não se dá nada a ninguém. De facto, se generosas porções do excedente de dinheiro do mundo fossem postas ao serviço do desenvolvimento sustentado, mais dádivas haveria, e menos surpresa causaria que alguém ouse dispensar parte da sua riqueza em prol dos outros.

Contudo, se subitamente este caso merece especial interesse, ele não é, nem pode ser, mais do que os muitos outros casos que não envolvem dinheiro mas envolvem idênticas doses bondade e voluntariado. Quando a prática do bem está descaracterizada de personalidades ou egos (situadas a montante dos actos), o bem adquire um anonimato benéfico, e aqueles que são tocados pelas suas pétalas mais facilmente adquirem uma gratidão para com a natureza humana (a humanidade) do que para com esta ou aquela pessoa, que por ter mais posses é um trivial mecenas (e daí também tira frutos).

Só um ser evoluído se dá à prática anónima do bem, sem se mostrar ou colher louros com isso. Isso é muito maior do que o mero pagar o que quer que seja a outrem, que está ao alcance de um grupo de amigos num bar, ou de uma fundação obrigada a objectivos filantrópicos. O mais importante é que a mão que precisa e merece ser ajudada encontre a mão que pode ajuda e sabe ajudar, independentemente dos rostos dos envolvidos. Fixarmo-nos nos rostos é o pecado original desta bela história e mecanismo de semear o bem por todo lado em geral e por lado nenhum em particular. 

(Imagem: The Lives of Others - Hank Willis Thomas - 2014)

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