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Sobre a inesperada trilogia cinematográfica d'O Hobbit, e como deturpar um bom livro *

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Foi mais por fidelidade a J.R.R.Tolkien do que a Peter Jackson, que assisti com curiosidade ao último filme da inesperada trilogia cinematográfica "O Hobbit".  Bem sei que gostos são gostos, mas há algo que não compreendo bem, e esse algo é a ousadia de se pegar numa obra escrita e consagrada de um escritor de renome, e inventar-lhe enredo para interligá-la com outra história do mesmo escritor, essa sim digna de uma trilogia e já meritoriamente consagrada pelos fãs do cinema.

Nós portugueses temos aquela expressão do "sem ovos não se poder fazer omeletes", mas neste caso ela não se aplica: a história d'O Hobbit, desde a descoberta do anel por Bilbo Baggins, até à conquista da montanha que aloja o dragão, e a posterior derrota deste animal, constituem ovos mais do que suficientes para um grande filme de ficção, com doses generosas de aventura e ação, como é de todo desejável. Com toda a carga tecnológica que permite produzir mundos imaginários com uma ilusão de realidade estonteante, não restaria nada melhor do que ser fiel ao argumento do livro, que é muito bom no seu género.

Ao partir em três o que nasceu para ser consumido por inteiro, abriu-se brechas de argumento, depois colmatadas por invenções de história que são, no meu entender, uma afronta ao autor original: com que direito é que alguém se propõe a reproduzir noutro formato (cinema) uma obra consagrada, e pode achar natural e legítimo inventar-lhe partes, coladas a cuspo, fazendo-as passar pelo próprio original com uma negligência de falsa ingenuidade colossal?

Estou em crer que esta saga cinematográfica d'O Hobbit arrisca-se a figurar entre nós como um inesperado e surpreendente caso em que se confunde dramaticamente direitos de exploração com direitos de autor. Algo como alugar um carro e achar que se lhe pode mudar a marca, a cor e a morfologia, e continuar a chamar o mesmo nome ao veículo e a invocar a credibilidade original da marca, Foi algo assim que fizeram ao Hobbit, pelo que neste caso, também por isso, o melhor mesmo será ler o livro, mesmo/sobretudo depois de ver o filme.

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