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Sobre os paraísos para o dinheiro, e o paraíso para o trabalhador

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Imagem: Zwei Zonen - Max Bill (1965)


Os recentes escândalos de tesouros escondidos em países-baú evidenciam não só o erro de entendimento mas também o perigo e a dor de cabeça que é ter-se mais dinheiro do que aquele que é justo e sensato que juntemos. Quantias muitas vezes projetadas para que pensemos em poder deixar de ter de trabalhar. A respeito da acumulação do dinheiro, o homem é uma criança a fazer montes de areia na praia, e fá-lo porque teme ou fantasia o futuro. Ignora, porém, que o mar, na forma de marés, sempre cresce para, na praia, tudo rediluir, redistribuir, e refazer, deixando novamente plano o que nasceu para permanecer plano.

Assim, quiçá tenhamos crescido e vivido até hoje sem nunca nos perguntarmos porque desejamos tanto ter mais dinheiro do que aquele que é justo que tenhamos, e que vantagem realmente mora no ter de deixar de trabalhar. O dinheiro e o trabalho do dia de hoje são os únicos que contam: o carpem diem é também aqui soberano. É que estes, tal como a fome ou a sede, saciam até certo ponto, tornando-se funestos acima da proporção em que são necessários. Ninguém precisa de mil milhões na carteira quando sai à rua para fazer o que o homem sabedor do papel no mundo tem o dever de fazer. 

Seria um ultraje pensar-se que quem faz o que tem vocação para fazer se resume a operar a troco de dinheiro. Porém, a sociedade não conseguiu ainda compreender que é possível trabalhar pro bono (para o bem comum) sem qualquer expetativa económica. Prefere chamar-lhe voluntariado, o que parece sugerir que, em alternativa, o trabalho "regular" é sempre algo do dominínio do involuntário. A ideia de que se tem de ganhar dinheiro em proporção ao que se trabalha parece constituir um mítico axioma dos nossos tempos, para o excesso mas também para o defeito. 

Quantas mais marés terão de ocorrer até se perceber como funciona esse mar e praia, mesmo numa ilha fiscalmente paradisíaca?

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