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Sobre o magistral filme "Eu, Daniel Blake", e a burocracia estatal enquanto causadora de mortalidade de cidadãos

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Para quem conhece a desconcertante mas sublime obra de Kakfa que dá pelo nome de "O Processo", a qual põe a nu a perversão aprisionante que uma máquina burocrática pode ter na incriminação de um cidadão, o filme "Eu, Daniel Blake" (direção de Ken Loach e argumento de Paul Laverty) é uma magistral transposição para cinema da mensagem celebrizada neste clássico literário, trocando o setor da Justiça pelo o contexto da Segurança Social britânica.

Nem sempre é fácil colocarmo-nos no lugar dos outros, pelo que a capacidade do cinema para sensibilizar os cidadãos para os problemas mais pertinentes que podem e devem tentar resolver é um fim nobre e meritório para a sétima arte, o qual tantas e tantas vezes é descurado e trocado limitado e fútil papel de fazer passar o tempo, do entretenimento puro e duro.

Através de dois casos particulares, este filme mostra com uma franqueza enorme como um Estado que aparentemente inventou instrumentos e canais para cuidar dos seus cidadãos mais desguarnecidos, acaba por fazê-lo sob a aparência de um colossal monstro: lento, desumano, indiferente, levando os alegados beneficiários a entrar em estados limite de impaciência e desgosto que podem mesmo constituir causas reais de mortalidade. A asfixia burocrática causada pela grandiosidade acéfala dos serviços públicos é um mal desnecessário que este filme expõe com crueza e frontalidade. Merece ser visto.

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