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Sobre o trabalhar na nossa própria versão ou na nossa versão partilhada, e o convite à reflexão pelas notificações do Dropbox

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Painter - Tom Dickson

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Há oportunidades de nos pensarmos em praticamente todo o lado. Só a prática aprimora a capacidade de deteção dessas pistas para nós mesmos. A seguinte mensagem foi-me apresentada enquanto trabalhava num editor de texto, e intrigou-me: "Estás agora a trabalhar na tua própria versão", e dentro de uma caixa azul "Abre a versão partilhada". E se o objetivo desta mensagem, mais do que referir-se a ficheiros e versões de documentos, pretendesse aludir à versão de nós mesmos, à pessoa que somos?

Talvez fosse pedagógico ter um sistema de notificação destes que nos ajudasse a perceber quanto do que fazemos contribui para a nossa própria existência, e quanto não flui, afinal, para uma versão partilhada (externa, colectiva) de nós mesmos. Não falo aqui da partilha que provém da virtude da dádiva, mas antes da partilha enquanto desassossego que se funda nas modas, no mexerico das opiniões, e na espuma dos dias cheia de volatilidades emocionais e falsas pertinências. É fácil de reconhecer quando se depende dessa identidade partilhada: tal pessoa tende a não se bastar para existir, ou seja, tende a não se tolerar e estabilizar quando está só, sem acesso aos canais da partilha, sejam estes tecnológicos ou não. Falta-lhe mundo dentro de si, e sobra-lhe mundo fora de si.

Não é, pois, surpreendente que sempre que estamos a trabalhar num ficheiro achando operar sobre a nossa própria versão dele, mas em que alguém mais opera nesse preciso instante, dá-se a efeméride de sermos notificados da existência de uma "cópia" e de um "conflito de versões". Suspeito que  as intrigante notificações do Dropbox dariam para elaborar mais do que um tratado de psicologia ou sociologia sobre o tempo que vivemos.

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