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Sobre o livro Galveias, de José Luís Peixoto

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Estreiei-me na prosa de José Luís Peixoto com Galveias, e em boa hora assim aconteceu, desde logo porque não é comum ler um livro concebido e realizado em torno das vicissitudes de uma freguesia portuguesa no período comunicante com a revolução de Abril 1974, e cuja história que rejeita centrar-se na figura de uma ou mais personagens principais, sobre qual toda a ação orbite. Os personagens humanos e animais são todos secundários, podendo pensar-se que a pedra sulfurosa que embate contra a vila no início da história possa representar o personagem principal que norteia e contextualiza aqui e acolá a ação dos habitantes locais.

Depois, a mestria narrativa com que se giza uma história dinâmica, em permanente mutação de ação e personagens, e que promove uma coleção de mosaicos ricos em especificidades culturais, personalísticas, ideológicas de um povo, de onde emana não um cheiro a enxofre generalizado (como o meteorito) mas um perfume progressivo e sintomático do que pode ser a vida rural, no limite rústica, do alto Alentejo. De objetos como as motorizadas, a atividades como a extração de cortiça, passando também pelas profissões prestigiantes como a do médico ou a da professora.

Para quem leu Levantado do Chão, de José Saramago, Galveias é uma obra de continuidade desse legado literário sobre o Alentejo, já sem a carga comunista e predominantemente agrária que aquele livro privilegia, mas com a evolução dessa realidade para a de uma democracia que não apagou traços culturais alentejanos relacionados com formas de ser e reagir, nem as debilidades que a região exibe ao nível da escolaridade e da maior precariedade do interior português em alguns domínios face às grandes metrópoles do país.

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