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Sobre o filme 'Into the Wild', a Natureza enquanto refúgio, e a civilização cortar consigo mesma para resolver problemas existenciais

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Em boa hora visionei o filme Into the Wild, baseado no livro com o mesmo nome, o qual por sua vez é baseado na verídica história de vida de Christopher McCandless, um visionário e vigoroso jovem diplomado que desiste de uma carreira profissional (uma "invenção do séc. XXI", nas palavras do próprio), para enveredar pelo caminho da autodescoberta e do apaziguamento interior (emocional, mental, espiritual) na forma de uma voluntária indigência. Tal jornada leva-o a percorrer várias paisagens e mundividências norte-americanas, paralelamente com um roteiro de consumo de literatura a preceito do seu objetivo de vida: viver livre na e da natureza.

Pelo que me pude aperceber ao consultar reações a este filme, existe uma unanimidade internacional quanto ao mérito e qualidade da obra (assinada duplamente por Sean Penn), mas não tanto quando ao sentido moral das decisões que levaram Christopher McCandless a romper com a família, desaparecer do mapa, e emergir solitariamente no Alasca, com o seu diário, alguns livros, e uma poderosa e esplendorosa natureza.

Pessoalmente, penso que o testemunho de McCandless é duplo: sinaliza o confronto individual com as subliminares premissas de vida ocidental, encaradas como axiomas vocacionais, mas também o preço que se poder ter de pagar pela rotura total com o sistema vigente. McCandless opera de forma radical e cegamente apostada na substituição do espaço físico e na rejeitação de tudo o que já existe (tenha ou não culpa direta). O seu trágico desfecho mostra como a civilização tem de se corrigir em pleno andamento, não podendo emigrar para "o Alasca" e reinventar-se do zero, sob pena de morrer devido à ignorância de se achar com direito de tornar o cometer os erros de aprendizagem de um ser do Neandertal. Se, como Isaac Newton preconizou, nos entendermos como "anões aos ombros de gigantes", a verdade é que sem os gigantes do passado (o conhecimento legado), os anões (nós) são seres vulneráveis e pouco preparados para a própria natureza e liberdade que tanto veneram.

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