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Sobre o documentário 'O Desaparecimento de Madeleine McCann', e dez observações que podem ajudar a sustentar uma convicção

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O recente documentário O Desaparecimento de Madeleine McCann reforça Portugal como palco internacional de um acontecimento polémico que está longe de se tornar mais claro e fácil de explicar. Esta é, de resto, a grande conclusão que se tira do seu visionamento. Não querendo de modo algum substituir com este texto a experiência de assistir ao documentário e formar perspetiva com ele, pretendo formular algumas considerações sobre o mesmo.

Volvida mais de uma década e após diligências várias da GNR, PJ, duas empresas privadas de detetives, e ainda Scotland Yard, ninguém consegue explicar que tipo de crime ali aconteceu. Há teorias, não faltou dinheiro (milhões!) e tempo para as conceber, mas ninguém consegue materializar um desaparecimento objetivo num crime consumado. Os jornais nacionais e internacionais oscilaram entre culpar os pais e não culpar os pais, a GNR e a Scotland Yard posicionaram-se pela inocência dos pais, e a PJ apresentou a tese de que os pais mataram a criança (e depois ocultaram e eliminaram o corpo). O povo português pende também sobre a culpa dos pais.

Do ponto de vista da ética e bom senso, e com o risco consciente de estar a emitir a minha opinião sobre o caso, deixo algumas notas:

1) Deixar três crianças a dormir num quarto de hotel enquanto se vai jantar com amigos é uma prática paternal censurável. Fazê-lo quando o quarto em questão pode ser acedido diretamente pela rua só agrava esta ideia.

2) Sedar crianças para que estas durmam melhor é uma prática paternal e médica censurável. Os pais não foram categóricos a desmentir esta prática nos seus filhos.

3) Objetivamente, dois cães pisteiros especialistas em encontrar cadáveres detetaram sangue humano no sofá do apartamento, no urso da menina, nas calças e numa blusa da mãe. As análises de DNA não foram conclusivas a 100% mas não descartam que o sangue possa pertencer a Madeleine.

4) Há pelo menos duas pessoas que afirmam ter visto um homem a carregar uma criança ao colo na noite do desaparecimento, e uma delas afirma com 60-80% que essa pessoa é o pai da criança.

5) Quando foi chamada pela PJ, a mãe da criança cerrou os lábios e não disse uma frase que ajudasse a esclarecer a investigação. Quando questionado por uma jornalista portuguesa sobre os cães, o pai da criança mandou a jornalista "perguntar aos cães"e nada mais. Mais tarde fez várias intervenções a descredibilizar estes animais e seus técnicos (todos ingleses, por sinal). Porquê tomar partido contra as provas caninas?

6) Ao invés de se deixar participar no caso judicial por dentro, os pais da criança decidiram abandonar o país e escapar à chance de serem julgados e ilibados, caso fosse esse o entendimento do juiz. Ao não o fazerem, ficarão presos para sempre no limbo da justiça/injustiça.

7) A demissão e afastamento do então inspetor da PJ teve aparentemente um forte cunho político, não sendo claro porque motivo a sustentação da tese de que os pais são responsáveis pela morte da criança (PJ) é menos legítima do que tese de que os pais não foram responsáveis e deve conduzir a uma demissão.

8) Os mesmo pais que não aceitaram ser constituídos arguidos e colaborar com a investigação e tribunais relativamente à culpabilidade, avançaram com processos (em Portugal e Reino Unido) contra o inspetor da PJ e a imprensa que avançou com teses de que os pais mataram a criança.

9) Ao fim de tantos anos, os pais de Madeleine focaram-se sempre só na sua filha e no fundraising para a encontrar, esquecendo que há milhares de crianças em idêntica situação, e não querendo saber de casos similares de desaparecimento. Nunca se encontrou indício de que a criança entrou em circuitos de tráfico humano.

10) Algumas imagens que colocam os McCann como pais calorosos e afetuosos relativamente aos gémeos contrastam de forma gritante com um trato frio, de olhar distante, e de emotividade controlada que exibiram no espaço público. Como muito bem diz o investigador da PJ afastado, os pais nunca agradeceram o trabalho e empenho dos polícias envolvidos em resolver o caso.

Posto isto, a minha convicção é que os pais têm culpa no desaparecimento, e que à falta de outras pessoas mais culpadas ainda, a culpa deles é que a prevalece. Têm culpa pela negligência nos cuidados às crianças; têm culpa por empolarem um conflito com as autoridades portuguesas transformando o assunto num caso Reino Unido vs. Portugal que se sobrepôs à aferição de pistas que poderiam conduzir à verdade; têm culpa porque não explicam o que, da parte deles, são indícios estranhos de sangue e cadáver e de uma emotividade truncada relativamente ao caso.

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