tag:blogger.com,1999:blog-364425282024-03-25T06:48:14.386-07:003vialMMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.comBlogger1112125tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-6727686897810975942024-03-22T02:20:00.001-07:002024-03-22T03:22:31.124-07:00Efígies de substância (2024.2): a gestão do afastamento físico pela interrupção da coabitação é o grande teste do algodão sobre o valor que damos às pessoas ao nosso em torno<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5PmLM5IP9LQOB5zulaAwr8NFqXMnmoP8-nFnC28JJGZKDHuAirWVH6sgC_UBnit9XVTVdEJf1vEskvvEt75-Sx8UqpmoAzjwerbKzZsEWmQ_OrqlkbzWUZkFglfNSZIRwYR3Q-GfZgsIaR-g479450wDf6PvMVEbJD2rZuKMzS-KVU5sH4D8d" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj5PmLM5IP9LQOB5zulaAwr8NFqXMnmoP8-nFnC28JJGZKDHuAirWVH6sgC_UBnit9XVTVdEJf1vEskvvEt75-Sx8UqpmoAzjwerbKzZsEWmQ_OrqlkbzWUZkFglfNSZIRwYR3Q-GfZgsIaR-g479450wDf6PvMVEbJD2rZuKMzS-KVU5sH4D8d" width="400" />
</a>
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p>* * *</p><p style="text-align: left;">Efígies de substância visa estimular o pensamento e reflexão pela força do génio de cartoonistas capazes de surpreender e deliciar com as suas criações.</p></div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-49231407174650770282024-03-15T06:54:00.000-07:002024-03-18T01:50:51.873-07:00Sobre o filme 'Uma Boa Pessoa' (2023), e um drama intergeracional em torno de dependências químicas e de contextos sociais que propulsionam o consumo abusivo de substâncias<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwcEviWhaY329f4RiFyfzBxQgMTmeKIPH6x4bIp63fE7_tvX4-uAo27iZOnLUjZomCzRnU_lN6yahryrk-O6qHFMTjwEVzEqBLWwWEm8c_x3zd9-1JKZxAexU0I5Fj7hO6f6RtnRSnetyJqTBgM4gsBqYjrYNWgo2kON0zDwuiMVWmnYwGwa0p/s1182/Uma%20Boa%20Pessoa%20-%202023.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="762" data-original-width="1182" height="412" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwcEviWhaY329f4RiFyfzBxQgMTmeKIPH6x4bIp63fE7_tvX4-uAo27iZOnLUjZomCzRnU_lN6yahryrk-O6qHFMTjwEVzEqBLWwWEm8c_x3zd9-1JKZxAexU0I5Fj7hO6f6RtnRSnetyJqTBgM4gsBqYjrYNWgo2kON0zDwuiMVWmnYwGwa0p/w640-h412/Uma%20Boa%20Pessoa%20-%202023.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: justify;">O filme que dá pelo título de '<a href="https://www.imdb.com/title/tt14153080/" target="_blank">Uma Boa Pessoa</a>' - realizado e escrito por Zach Braff - tem uma pungente trama que orbita sobre um problema global de grande dramatismo, as dependências químicas, mas fá-lo sob o enquadramento estado-unidense. Centralizando a ação na figura do avô Daniel (personificado pelo aclamado Morgan Freeman) e da sua ex-nora Allison (brilhantemente interpretada por Florence Pugh), a história mostra como os vícios químicos tanto podem advir de heranças intergeracionais (genéticas ou sociais), como também de inesperados incidentes de vida cujo desfecho dramático propulsiona a entrada e agudização de quadros de consumo abusivo de substâncias.</p><p style="text-align: justify;">O filme tem o condão de expor a evolução das substâncias da moda nos EUA, mostrando o álcool como uma substância mais antiga (<i>old school) </i>mas ubíqua, o ansiolítico alprazolam (ex.: Xanax) como uma opção mais conotada com a meia idade, e caracterizando os opiáceos enquanto droga da moda na atualidade, nomeadamente a oxicodona. Esta evolução cultural é bem evidenciada na história pelo alargamento do âmbito de uma associação de alcoólicos anónimos para mais tipos de dependências - frequentados na história quer por Daniel como por Allison, mas por dependências muito diferentes. </p><p style="text-align: justify;">Sob alçada de uma família na qual um acidente de viação causa duas fatalidades, a disrupção de um jovem casal, e força a realocação de um avô e neta ao papel disfuncional de 'pai' e 'filha', a história enfatiza muito bem o desajuste de compreensão intergeracional, traduzido por dificuldades de comunicação e entendimento mútuo de realidades, e materializado na historia em temas como pílula anticoncecional, iniciação da vida sexual, vida social, e particularidades da comunicação passar também por plataformas digitais.</p><p style="text-align: justify;">Em suma, estou em crer que não foi dado o devido crédito aos méritos de '<a href="https://www.imdb.com/title/tt14153080/" target="_blank">Uma Boa Pessoa</a>', esperando estar a contribuir para compensar o que considero ser uma invisibilidade injusta numa história tão meritória, pertinente e realista.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-58816351748728477252024-03-04T05:49:00.000-08:002024-03-05T02:19:23.977-08:00Sobre o livro 'Debaixo de Algum Céu', (Nuno Camarneiro), e uma boa história de baralhar e redistribuir as vidas dos seus personagens, encontrando-lhes soluções para problemas anteriormente vividos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcWmtNQfUH3de8IjLwbDE-Ptu3CUvzG3evITYF_uIUj8fOL3ObqmCIRljCyE5WD7qIgGk-YAa8dSKB1al5QhRRyY6yX1KpF0YM8JRwYP1CQ4P-gxwqpzY0owMERphsH0zLfwo6thXcwqN0Y2SjYX0ucdUZJeMDx4OmV4woZodI60iwJ6TSQvtA/s773/gerd%20arntz%20apartment%20house.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="773" data-original-width="497" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcWmtNQfUH3de8IjLwbDE-Ptu3CUvzG3evITYF_uIUj8fOL3ObqmCIRljCyE5WD7qIgGk-YAa8dSKB1al5QhRRyY6yX1KpF0YM8JRwYP1CQ4P-gxwqpzY0owMERphsH0zLfwo6thXcwqN0Y2SjYX0ucdUZJeMDx4OmV4woZodI60iwJ6TSQvtA/w412-h640/gerd%20arntz%20apartment%20house.jpg" width="412" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/gerd-arntz-apartment-house" target="_blank">Apartment House</a> - Gerd Arntz (1927)</div><br /><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Quando me decidi à leitura de '<a href="https://www.goodreads.com/book/show/17618872-debaixo-de-algum-c-u?ref=nav_sb_ss_1_15" target="_blank">Debaixo de Algum Céu</a>', do português Nuno Camarneiro, dei por mim desconfiado de algum equívoco, pois nem sempre os prémios (literários) refletem meritocracia. Porém, esta desconfiança mesclada de preconceito - até porque conhecia alguma coisa da vida deste escritor - começou a ser quebrada logo quando li os aclamados nomes que formaram o painel decisor do prémio. Ainda sem ler o livro, custava-me a crer que um livro possa enganar nomes tão versados na matéria.</p><p style="text-align: justify;">O livro, como concluí mais tarde, não precisa do prémio para justificar a sua existência, vale pela convincente e lúcida proposta de diálogo com o leitor, narrando vidas normais dos habitantes de um prédio à beira-mar plantado, junto a um farol, durante um período de poucos dias entre o período de Natal e a passagem do ano.</p><p style="text-align: justify;">Pela abundância e variedade dos personagens colecionados na história, Camarneiro consegue fazer a narrativa saltitar entre núcleos familiares ou pessoas a existir sozinhas sob a memória deles, e permeia esse jogo com capítulos onde um personagem ou o narrador sublinham e se demoram com a sua perspetiva individual sobre ocorrências narradas, estados psíquicos vividos em associação à ação da história, ou como eixos caracterizadores das pessoas que são.</p><p style="text-align: justify;">'<a href="https://www.goodreads.com/book/show/17618872-debaixo-de-algum-c-u?ref=nav_sb_ss_1_15" target="_blank">Debaixo de Algum Céu</a>' poderia muito bem ter-se chamado "Na Orla de Algum Mar", pois o mar é, mais do que o céu, o meio que liga várias das imagens e vidas dos personagens da história. Por ser sobejamente variegado apesar do seu sucinto tamanho, a leitura deste livro é ágil, e a impressão final é a de que também o leitor pertence ao prédio onde tudo acontece, e que também o leitor se inscreve nas efemérides por lá vividas. Sem ser dotado de uma moral protuberante a coroar toda a história, o mérito de Camarneiro é baralhar e redistribuir as vidas dos seus personagens, encontrando-lhes soluções para problemas anteriormente vividos, soluções essas que assentam como uma nova maré no momento temporal do ano novo, onde por norma nos deixamos fazer brotar novas resoluções que alterem ou deem cumprimento ao que de menos bom ou desejável se reconhece do ciclo temporal anterior.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-62086009967404032622024-03-04T02:48:00.000-08:002024-03-04T02:49:57.052-08:00 Álbum do mês (03/2024): 'Love and its opposite' (Tracey Thorn, 2010)<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg5D5M4WDqEWd7ya4bBso6RWooW5dGudaQT4fbcWnKImN-GVV5S8DlfVEIo83SvFHES9pYX31iUGGols3Sf47AQjj3qi_EJjnW1s0UypH5bUgmA2toytth_mK6a84mzi49ujmDp9M5GfRfHTonVOBlSt8SHedasb7lVI5BwSZ_P1eN82VmcaxY/s1000/51fiQ-oaFwL._UF1000,1000_QL80_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1000" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgg5D5M4WDqEWd7ya4bBso6RWooW5dGudaQT4fbcWnKImN-GVV5S8DlfVEIo83SvFHES9pYX31iUGGols3Sf47AQjj3qi_EJjnW1s0UypH5bUgmA2toytth_mK6a84mzi49ujmDp9M5GfRfHTonVOBlSt8SHedasb7lVI5BwSZ_P1eN82VmcaxY/w640-h640/51fiQ-oaFwL._UF1000,1000_QL80_.jpg" width="640" /></a><br /><br /></p><p style="text-align: center;"><iframe style="border-radius:12px" src="https://open.spotify.com/embed/album/3YS47ds0n4EtT3NK8DTLE4?utm_source=generator" width="100%" height="352" frameBorder="0" allowfullscreen="" allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" loading="lazy"></iframe></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-79417545714127922482024-02-26T03:23:00.000-08:002024-02-26T11:53:01.249-08:00Sobre a pronta suspensão de contas nas redes sociais ao arrepio da presunção de inocência, e os perigos de nos refastelarmos em plataformas privadas e multinacionais de comunicação<div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkEunet3ByvvfCBajdkd-vX9dDulS1zMuZqyryo-S28G16Cq7Tr3vezFY5jQ_4vgD54S-DSziT5hKQA2pMDF_tG0uBmAbbdXO3txwEPQvUuCPJoo-i91OSdagV7tdOkSJd1YTjGvu8gHkHjMX-hch25jj3VbFxLOfUutDh89s8Kt5iY9kcUfq4/s783/Alicia%20Leal%20resurection%20.jpg"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkEunet3ByvvfCBajdkd-vX9dDulS1zMuZqyryo-S28G16Cq7Tr3vezFY5jQ_4vgD54S-DSziT5hKQA2pMDF_tG0uBmAbbdXO3txwEPQvUuCPJoo-i91OSdagV7tdOkSJd1YTjGvu8gHkHjMX-hch25jj3VbFxLOfUutDh89s8Kt5iY9kcUfq4/w514-h640/Alicia%20Leal%20resurection%20.jpg" width="514"></a></div><p><a href="https://www.artsy.net/artwork/alicia-leal-resureccion-slash-resurrection" target="_blank">Resurección / Resurrection</a> - Alicia Leal (2021)</p><p><br></p><p>Fui surpreendido recentemente por uma suspensão da minha conta nas redes sociais, por motivos ainda por apurar, e com noventa dias para poder apelar contra a suspensão. Volvida uma semana sem acesso a mais do que uma dessas redes - plataformas detidas por um mesmo dono - dou comigo atónito relativamente à facilidade com que nos pusemos todos nas mãos de grupos privados para pode socializar no meio digital. Não vou demonizá-los só porque me encontro lesado, até porque suspeito que me tenham suspendido a conta ao abrigo de uma qualquer regra protetora do bem comum, mas não consigo deixar de pensar que grupo privado algum deveria ser capaz de neutralizar a atividade de um cidadão sem que tenha provas concretas de que este é culpado por alguma coisa.</p><p>É que contrariamente às regras da justiça na república portuguesa, a plataforma não partiu de uma presunção de inocência. Ela prende (suspende a conta) e pede ao envolvido que se justifique e apele para que a normalidade possa ser recuperada. É esta forma de proceder aquilo que me perturba mais no caso. Não há uma explicação objetiva, há um remeter para termos e condições gerais demasiado amplos quanto a possibilidades de infração, como quem alega que um cidadão passe a estar detido por violar o código penal, sem concretizar que ponto do vasto conjunto de possibilidades está efetivamente a motivar a ação. Acresce ainda outro facto perverso: a plataforma facilita (e sugere) a que o utilizador descarregue todos os ficheiros que estavam associados à sua conta, o que é sem si uma presunção de despedida em definitivo, ou seja, de que a decisão tomada presume mais do que suspender até que se esclareçam as coisas, presume, com caráter definitivo, cancelar, expelir, cercear, barrar a minha existência, sob aquele perfil, nas redes sociais tuteladas por essa entidade privada.</p><p>Não podendo antever por ora o que sucederá a este caso, e reservando-me o direito de poder não tentar regressar a estas plataformas caso venha a concluir que o ato foi iníquo, deixo aqui esta nota pública para o perigo de nos deixarmos agrilhoar socialmente a canais de comunicação que prometem facilidades mas que reivindicam para si formas de tratamento dos cidadãos pouco consentâneas com os níveis de modernidade que apregoam pelo lado da sofisticação tecnológica. Uma mina de fragmentação que só quando pisada revela a natureza do solo durante tanto tempo percorrido sob uma infundada presunção de segurança e liberdade.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-89808734395634118712024-02-16T06:04:00.000-08:002024-02-16T06:50:45.036-08:00Sobre os improducentes palco, holofotes e plateia da internet para quem dela idealiza(va) um fórum democrático e cortês de discussão<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieH5d3RWMqW_J6Ir-WBRV-a0ltnJveUtSGiw5GXyfd512IE6fJYqLwkVTlwUth_DPvZToAnc3PaJV_CD-BIqyFff8HtUa0SYujv6IC8Ua5e_CvutpZaQQfEbJs3-kFPMMegrDsm5hn1NqpF1SRkaj_sTSmf7CFJBxnht0ojodt6VLga3SNhx8J/s853/jeanine-michna-bales-whistestop-speech.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="816" data-original-width="853" height="612" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEieH5d3RWMqW_J6Ir-WBRV-a0ltnJveUtSGiw5GXyfd512IE6fJYqLwkVTlwUth_DPvZToAnc3PaJV_CD-BIqyFff8HtUa0SYujv6IC8Ua5e_CvutpZaQQfEbJs3-kFPMMegrDsm5hn1NqpF1SRkaj_sTSmf7CFJBxnht0ojodt6VLga3SNhx8J/w640-h612/jeanine-michna-bales-whistestop-speech.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: center;"><span style="text-align: justify;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/jeanine-michna-bales-whistestop-speech" target="_blank">Whistestop Speech</a> - Jeanine Michna-Bales (2018)</span></p><p><span style="text-align: justify;"><br /></span></p><p><span style="text-align: justify;">Embora a internet ofereça palco, holofotes e plateia para todos os que querem ter algo a comunicar ao mundo, estas liberdades concedidas pela ligação à velocidade da luz entre si de múltiplas máquinas e seus utilizadores encoraja o homem a fazer algo que ele consideraria mais contraproducente empreender no mundo físico. Aquele que chega a um grande fórum digital, seja uma rede social, uma caixa de comentários de um jornal, ou a um qualquer canal de generalidades e debita um pensamento, um protesto, um louvor, uma tomada de posição, aceita realizar algo que no mundo físico não se vê acontecer com a mesma abundância e reincidência.</span></p><p style="text-align: justify;">Imagine-se uma estação de comboios apinhada, imagine-se um <span>quiosque no dia de jackpot de totolotarias, imagine-se uma praça de alimentação de um centro comercial de um dia de chuva. E agora imagine-se a comparecer num destes locais e a proferir, em voz alta, os mesmos </span>pensamentos, protestos, louvores, ou tomadas de posição que mais facilmente já propalou ou vê propalar pela internet. Os transeuntes olhariam para si, as expressões das pessoas não o deixariam indiferente, e notaria também a profunda desatenção e desprezo votada pela maioria dos passantes. A sua voz, que atentava ao início alcançar o "mundo" lá fora, a opinião pública, acabaria por projetar-se e impactar muito poucas pessoas daquele espaço físico, não alcançando sequer as ruas mais próximas. Seria assim tão motivante e inadiável comunicar ao mundo essas ideias e mensagens?</p><p style="text-align: justify;">O confinamento ao conforto do nosso espaço físico e a uma privacidade anonimizante aquando da experiência de comunicação empreendida via internet cria uma impressão de facilidade no emitir conteúdos subjetivos para concidadãos desconhecidos. Concidadãos que não estão minimamente comprometidos com a ousadia dessa comunicação, e com processos de empatia que os faça respeitar quem fala. Tenho-me convencido de que a ideia platónica da internet como fórum democrático de discussão não colhe, pelo mesmo motivo que nunca foi possível fazer debates organizados e respeitosos no espaço público. Ainda para mais tudo decorre na ausência de um moderador. As conversas são rapidamente tomadas em ardis sectários dominados por pessoas que agridem e descredibilizam gratuitamente, e as conversas são também elas próprias cheias de irrazoabilidades e confusão total entre a mensagem e o mensageiro, entre o discordar e o não ter direito a falar.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-55271882024108452962024-02-12T08:35:00.000-08:002024-03-04T02:49:46.402-08:00Álbum do mês (02/2024): 'Un Mattina' (Ludovico Einaudi, 2004)<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAjgVa2fS-XgN_2tDuqPiSN3UnycDIWppB6EQXjpkcGwsXRB_vK7S6fgygjRtVUTnDkfXf3hOkR0t16chALNQQFBMJzEXzI0tuICW_VvS2Wlo0KNEHtgzCr8PvwaO13N6FSLPbF_ja56zMJ6MMejccfGyKhVyw_gEuR8ijrBcXRz8H_DfhnMEW/s640/Una%20Mattina%20-%20Ludovico%20Einaudi.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="640" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAjgVa2fS-XgN_2tDuqPiSN3UnycDIWppB6EQXjpkcGwsXRB_vK7S6fgygjRtVUTnDkfXf3hOkR0t16chALNQQFBMJzEXzI0tuICW_VvS2Wlo0KNEHtgzCr8PvwaO13N6FSLPbF_ja56zMJ6MMejccfGyKhVyw_gEuR8ijrBcXRz8H_DfhnMEW/w640-h640/Una%20Mattina%20-%20Ludovico%20Einaudi.jpg" width="640" /></a></p><p style="text-align: center;"><iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="352" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/album/0Ryad9M1b1MxSjgXdHCh1c?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe></p><p style="text-align: center;"><br /></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-71798348512528591102024-01-22T01:49:00.000-08:002024-01-22T02:08:24.712-08:00Sobre as 'wake-up calls' na vida, e o dilema de preferir recebê-las e geri-las em conformidade, ou ignorá-las e viver com intuição e fé o que dá à costa dos sentidos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzMFMA0b_3noAt9KUg9WWMPn8FiV_gRVl2Bu17kfsyelbRnyZTUGvz19GVo0dOwIRJpWJvdbyM8x90sx9vYHxU17kph4SaK-S2GPGwWBzx2SC2rYa2_DGZKHqvvTTiLn1A6VQPlum44uzzzFsGZxKF19PZpdEmG-qtWDqkVgdzR2ZNrp6ZS9iy/s781/jason%20mowry%20-%20The%20nudge,%20the%20touch,%20and%20a%20whisper,%202021.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="781" data-original-width="781" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzMFMA0b_3noAt9KUg9WWMPn8FiV_gRVl2Bu17kfsyelbRnyZTUGvz19GVo0dOwIRJpWJvdbyM8x90sx9vYHxU17kph4SaK-S2GPGwWBzx2SC2rYa2_DGZKHqvvTTiLn1A6VQPlum44uzzzFsGZxKF19PZpdEmG-qtWDqkVgdzR2ZNrp6ZS9iy/w640-h640/jason%20mowry%20-%20The%20nudge,%20the%20touch,%20and%20a%20whisper,%202021.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/jason-mowry-the-nudge-the-touch-and-a-whisper-1" target="_blank">The nudge, the touch, and a whisper</a> - Jason Mowry (2021)</p><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: justify;">No hotel da vida, preferes receber <i>wake-up calls</i> e ser forçado a conviver com essa tomada de consciência, ou consideras que melhor mesmo é evitar sobressaltos e gerir com intuição e fé o que dá à costa dos sentidos? O serviço de <i>wake-up call </i>dos hotéis deve, por estes dias, ter sido exterminado pela autonomia de programar unilateralmente alarmes com um indicador e a palma da mão a suster o versátil dispositivo que o permite. Mas o seu conceito não deverá desaparecer do nosso imaginário.</p><p style="text-align: justify;">O referido serviço nunca ultrapassou o âmbito de alertar para compromissos temporais à escala do dia, em que o despertar a horas era primordial. A necessidade continua a existir, até porque o sono é manifestamente um território de inimputabilidade para o caráter do homem. Mas o meu intuito aqui procura um alcance mais longo, e a alusão ao hotel da vida é precisamente para que se pense nos avisos que esta nos dá sobre coisas que se estão/poderão estar a passar ou irão/poderão passar-se caso nada em contrário seja feito.</p><p style="text-align: justify;">O termo de <i>wake-up call </i>evoluiu para substantivar o conceito de receber um alerta sobre um problema, perigo ou necessidade. Alargado ao oceano da vida, passamos os dias a tentar inteligir sinais que possam configurar <i>wake-up calls</i>, mas também a rebater e descredibilizar outros que, de modo inconveniente para nós, também o pudessem ser num sentido que consideramos desvantajoso.</p><p style="text-align: justify;">Isto decorre de que, contrariamente à versão original, humano algum consegue programar integralmente a sua vida para <i>wake-up calls</i>, embora a tecnologia, com os seus sensores e tratamento de resultados, consigam cada vez mais cobrir componentes específicos outrora sem qualquer tipo de diagnóstico. Que o digam temas como a saúde, finanças, meteorologia, transportes, etc.</p><p style="text-align: justify;">A pergunta inicial carece então de uma posição: é preferível receber essas chamadas que nos acordam para a vida ou não as receber? Eu, que prefiro por regra ter sempre os dados do meu lado, prefiro recebê-las, Não giro a vida com fé, mas o mesmo não posso dizer da intuição. Esta combinação leva-me a filtrar as <i>wake-up calls</i> que recebo, triando-as no que toca à preocupação que lhes vou - ou não - devotar. Sei que elas estão lá, mas uso as minhas costas largas para gerir dissabores de ter de manter passos firmes apesar da consciência acometer para a memória desses avisos.</p><p style="text-align: justify;">À falta de outros mecanismos, as <i>wake-up calls </i>diretas à nossa central de consciência são o grande motor do posicionamento ou reposicionamento, devendo por isso ser procuradas, estimadas, respeitadas e geridas. Seja porque refletem a máxima do onde há fumo há fogo, seja porque por vezes o fumo é só um palito de incenso a perfumar de modo inconsequente a nossa sala interna de controlo de operações.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-14313252161950127362024-01-18T12:41:00.000-08:002024-01-18T12:41:39.819-08:00Álbum do mês (01/2024): 'Suddenly' (Caribou, 2020)<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCvCMWma11vHZ6WViLmLWeFZr6rpD_YNS_VUQkaOY9gaeSUYTP9tFct9-Nq36__YG6sMnAGyKrTMSeEgH2BdiXeE8e6UU8NhJnx2jf4gBnYknyljqOxcWVuv-wnv5r28ml08ANOBS2z84MwZft7WZTlB6SlomXDeSV9i2rNpbSClg_k3oS63Ye/s971/Suddenly%20Caribou%202020.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="971" data-original-width="970" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCvCMWma11vHZ6WViLmLWeFZr6rpD_YNS_VUQkaOY9gaeSUYTP9tFct9-Nq36__YG6sMnAGyKrTMSeEgH2BdiXeE8e6UU8NhJnx2jf4gBnYknyljqOxcWVuv-wnv5r28ml08ANOBS2z84MwZft7WZTlB6SlomXDeSV9i2rNpbSClg_k3oS63Ye/w640-h640/Suddenly%20Caribou%202020.jpg" width="640" /></a><br /><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe style="border-radius:12px" src="https://open.spotify.com/embed/album/34iY3hgyKCn1EJe6YVNFro?utm_source=generator" width="100%" height="352" frameBorder="0" allowfullscreen="" allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" loading="lazy"></iframe></div><br /><p></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-33324343018197535872024-01-08T12:14:00.001-08:002024-01-15T05:55:28.472-08:00Sobre o livro 'A Mente Justa ' (Jonathan Haidt), e uma teoria de tudo centrada no conceito de papilas gustativas 'morais' que presidem à matriz moral de cada ser humano<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQZym7KFuI5HVIKJJLmK6L9C4SYQqlLDlNKeZRuEV_NbdQKHjI6IB0TEcuDyzUl4EDqkN5qtPkYfpZtv_6Rh9HqHHrRq7iHqIS4A6At7oJIpZI_RKa7yfqDS24iGN04hotSFnu0WEQQSDzUKA9oeE6BRLFpiK_c5d5nueQIBWKoKu38cuICZ8x/s778/joseph%20muzondo%20-%20According%20to%20Our%20Righteousness,%202017.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="778" data-original-width="601" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQZym7KFuI5HVIKJJLmK6L9C4SYQqlLDlNKeZRuEV_NbdQKHjI6IB0TEcuDyzUl4EDqkN5qtPkYfpZtv_6Rh9HqHHrRq7iHqIS4A6At7oJIpZI_RKa7yfqDS24iGN04hotSFnu0WEQQSDzUKA9oeE6BRLFpiK_c5d5nueQIBWKoKu38cuICZ8x/w494-h640/joseph%20muzondo%20-%20According%20to%20Our%20Righteousness,%202017.jpg" width="494" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/joseph-muzondo-according-to-our-righteousness" target="_blank">According to Our Righteousness </a>- Joseph Muzondo (2017)</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div></div><br /><div style="text-align: justify;">O livro <a href="https://www.goodreads.com/book/show/11324722-the-righteous-mind?from_search=true&from_srp=true&qid=1UiCRWRaKc&rank=2" target="_blank">A Mente Justa</a> afigura-se como uma obra candidata a livro referência em matéria de educação moral. Sou de uma geração que fará a travessia de uma cosmovisão em que a moral dos homens é sinónimo da moral preconizada pelo Deus cristão, para um mundo em que a educação moral se sustenta pela ciência. É com este mote que passo ao que me traz aqui: o elogio e aplauso sem limites da obra a mente justa e dos méritos do seu sábio e estudioso autor: Jonathan Haidt.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Se nas ciências físicas se procura uma teoria de tudo, Haidt apresenta e explica neste livro a sua <i>teoria de tudo </i>no que toca à moral dos homens. Explica porque não estamos reféns dos genes, mas também porque também dependemos deles para reagir e compreender o tabuleiro do mundo. Explica porque não somos capaz de cingir a existência ao juízo racional.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Haidt é propoente de uma teoria, a teoria dos fundamentos morais, que propõe um sistema de papilas gustativas morais, assentes nos seguintes eixos "de sabor" :</div><div><ul style="text-align: left;"><li style="text-align: justify;">Cuidados/Agressões</li><li style="text-align: justify;">Justiça / Fraude</li><li style="text-align: justify;">Lealdade/Traição</li><li style="text-align: justify;">Autoridade/Subversão</li><li style="text-align: justify;">Santidade/Degradação</li><li style="text-align: justify;">Liberdade/Opressão</li></ul><div style="text-align: justify;">Cada pessoa desenvolve uma matriz moral que depende inicialmente de um cocktail evolutivo <i>a priori </i>inerente à sua genética, e que é passível de agravamento ou modificação através da experiência empírica, nomeadamente social. Com isto, Haidt fornece uma nova bíblia científica, sem dogmas, para a educação moral de cidadãos que se queiram livres do jugo interesseiro das religiões no toca a domar o homem e sua conduta por imposições de índole pseudodivinas, e sobretudo antiquadas e fantasistas.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Sublinho ainda dois méritos suplementares deste livro: faz o enquadramento e reconhecimento do valor da investigação do português António Damásio (já aqui elogiado); e faz a demonstração como uma obra clássica tida como pilar e seminal - A República, de Platão - pode estar redonda e insuspeitamente errada na ideias que veicula sobre a mecânica da moralidade dos homens.</div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-89852975074246473782024-01-05T00:43:00.001-08:002024-01-05T00:46:31.632-08:00Efígies de substância (2024.1): o reconhecimento de valor nas coisas externas reflete forçosamente a ideia que temos de nós (ou as ideias que temos em nós)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhbqhfYHjxxMpQ8BlIvQmTxWH_ruKAO07TexvWQefNRc44-eFJsp3PCHk4cZtYc-8snZsdBMX9ZBd59bamSJljRIFT8YhIC-ALYFbMllfUTp-LgNawKYuGxaNnc_WdytukZQ6IoDt9HTauQok_arkmIkzYEprAmUvRrkD5gFzubqf6tjOXx3Y7i" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhbqhfYHjxxMpQ8BlIvQmTxWH_ruKAO07TexvWQefNRc44-eFJsp3PCHk4cZtYc-8snZsdBMX9ZBd59bamSJljRIFT8YhIC-ALYFbMllfUTp-LgNawKYuGxaNnc_WdytukZQ6IoDt9HTauQok_arkmIkzYEprAmUvRrkD5gFzubqf6tjOXx3Y7i" width="400" />
</a>
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p>* * *</p><p style="text-align: left;">Efígies de substância visa estimular o pensamento e reflexão pela força do génio de cartoonistas capazes de surpreender e deliciar com as suas criações.</p></div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-87738245043898036732024-01-03T13:46:00.000-08:002024-01-03T13:46:07.542-08:00Sobre o livro 'Cândido, ou o Optimismo' (Voltaire), e um parque temático satírico, mordaz e filosófico na forma de literatura de ficção<p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT8Ky93ZOwSWGcxK9Xu_vrcd5Ei_iOrNwUYnp_V66q00lR_LiuE-kjLE_4x1bAC2NB-lvxF6u2xLXPWjlfTdoB3wYMGEKycctBOnLCTwReg5tzidmC70BfOxJqZMjsmrMxdFwK-5G5LFjGywBmAhR_OUXKOc0AEEO_wKfQiVGrXUMcmzouLenX/s693/gustave-courbet-the-encounter-bonjour-m-courbet.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="590" data-original-width="693" height="544" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT8Ky93ZOwSWGcxK9Xu_vrcd5Ei_iOrNwUYnp_V66q00lR_LiuE-kjLE_4x1bAC2NB-lvxF6u2xLXPWjlfTdoB3wYMGEKycctBOnLCTwReg5tzidmC70BfOxJqZMjsmrMxdFwK-5G5LFjGywBmAhR_OUXKOc0AEEO_wKfQiVGrXUMcmzouLenX/w640-h544/gustave-courbet-the-encounter-bonjour-m-courbet.JPG" width="640" /></a></div><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> <a href="https://www.artsy.net/artwork/gustave-courbet-the-encounter-bonjour-m-courbet" target="_blank">The Encounter (Bonjour, M. Courbet)</a> - Gustave Courbet (1854)</div><p style="text-align: center;"><br /> </p><p style="text-align: justify;">A leitura de <a href="https://www.goodreads.com/book/show/15721540-c-ndido-ou-o-optimismo" target="_blank">Cândido, ou o Optimismo</a> marcou a minha estreia a ler Voltaire. A experiência revelou-se prazerosa, e o travo que me ficou foi doce e divertido. A escrita é simples, o conteúdo enciclopédico, e o efeito satírico e mordaz. A impressão global é mesclada de pontos de contacto com outros autores e livros que li anteriormente, lembrando-me Júlio Verne e Machado de Assis apesar destes serem posteriores àquele em pelo menos um século.</p><p style="text-align: justify;">O eco de Júlio Verne advém do facto de que <a href="https://www.goodreads.com/book/show/15721540-c-ndido-ou-o-optimismo" target="_blank">Cândido </a>é uma grande viagem à volta da terra (mas não ao centro da terra). E fá-lo idêntico espírito de aventura e de fusão entre a técnica e a natureza que se encontra naquele autor também francês. A relação com o brasileiro Machado de Assis sustenta-se pela esrutura do livro, com capítulos curtos em com títulos de capítulo sugestivos, como julgo ter encontrado em Memórias Póstumas de Brás Cubas, mas também pelo sentido de humor e balanço cuidado entre a erudição subjacente e a preservação de simplicidade na história. Sem paralelo com experiências pessoais anteriores é a ideia de ficcionar um sistema filósifico (Leibniz) e de provocar discussão com sistemas alternativos no decorrer da história, que se queria de amor mas é tudo menos que isso.</p><p style="text-align: justify;">Para complementar, <a href="https://www.goodreads.com/book/show/15721540-c-ndido-ou-o-optimismo" target="_blank">Cândido, ou o Optimismo</a> fica-me na retina como um parque temático na forma de livro, uma espécie de liga das nações onde as diferentes nacionalidades e geografias do mundo se vão mostrando pelas suas características identitárias e efemérides históricas. Uma viagem que nutre e não cansa pelo culto à variedade e à congregação num mesmo plano narrativo de improváveis locais, pessoas e formas de viver. </p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-41175610973815851902023-12-21T13:48:00.000-08:002023-12-21T13:48:24.052-08:00Sobre os desencontros mentais com o presente, passado ou futuro, nas pessoas que encontramos um pouco por todo lado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMfpJ5YVZbs9OHGn6QoA4TX6vPgmRN4qg0TSabUWA57lfZzXn2qYI2vjBnMQnOSY7LhXuJZqm8ZxF4kKDZfEOGFeodpdBLpGATcN48wW7tWNaiu0BHBYsTOGvuKrbU9r5gt9zQtRzYKxuUoU_N4LaRKOfhpac3SLrIzf-jIUOq0nkPAkuVliIL/s587/adam-martinakis-past-future.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="587" data-original-width="471" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMfpJ5YVZbs9OHGn6QoA4TX6vPgmRN4qg0TSabUWA57lfZzXn2qYI2vjBnMQnOSY7LhXuJZqm8ZxF4kKDZfEOGFeodpdBLpGATcN48wW7tWNaiu0BHBYsTOGvuKrbU9r5gt9zQtRzYKxuUoU_N4LaRKOfhpac3SLrIzf-jIUOq0nkPAkuVliIL/w514-h640/adam-martinakis-past-future.JPG" width="514" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/adam-martinakis-past-future" target="_blank">Past future</a> - Adam Martinakis (2020)</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p style="text-align: justify;"><span style="text-align: left;">Não deve haver uma pessoa no mundo que não seja atormentada, em algum assunto da sua envolvência, pela convicção de que as coisas deveriam ser diferentes daquilo que mostram ser. Há quem explore este desconforto para com o status quo para produzir as necessárias inovações. Mas também há quem sucumba e se derrote interiormente pela frustração de não ver materialziada essa versão diferente que defende.</span></p><p style="text-align: justify;">A cada novo dia que vivemos cruzamo-nos inadvertidamente com pessoas a lutar pelo passado, a lutar pelo presente ou a lutar pelo futuro. Há também pessoas a sofrer pelo seu passado, pelo seu presente ou pelo futuro. A máxima budista de que todo o homem sente dor encaixa bem nesta descrição, mas o que me apraz frisar é que há danos colaterais da distração que estas diferentes dinâmicas criam. Desde logo o peso que novos factos ou passagens assumem perante o cenário mental que está a ser vivido.</p><p style="text-align: justify;">Quem põe o tónico mental no passado e se frustra com o que por lá se passou, tenderá a achar que o mal já está feito e que nada o suplantará. Esta atitude foi também a de séculos de humanidade - como muito bem explicou Yuval Harari no seu livro Sapiens - quando vivia para expiar o pecado original, e quando via tudo daí para a frente como a degradação progressiva do mundo (face ao inexorável pecado original).</p><p style="text-align: justify;">Quem põe o tónico mental no presente vive atormentado pela carga do real, pelos instantes irrepetíveis do que lhe coube de bom viver, ou pelos instantes que se eternizam do que lhe coube de mau viver. O presente tanto pode parecer passar a voar se à mente houver convição de que as coisas não deveriam mudar, como pode parecer progredir a passo de caracol quando o ímpeto reformista ou uma batalha decisiva se espera vislumbrar no horizonte.</p><p style="text-align: justify;">Quem põe o tónico mental no futuro desconsidera a torto e a direito o que há. Vive em rejeição do passado e presente porque esses não saciam. E com isso sofre amordaçado pelo tardar tanto em chegar ao ponto onde as coisas não pareçam tão do passado como hoje parecem. Pode ser um visionário, mas pode também ser alguém que desperdiça o tempo certo pelo tempo incerto.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-23603678398854408972023-12-11T06:34:00.000-08:002023-12-11T08:03:22.269-08:00Sobre o livro 'Eurico, O Presbítero' (Alexandre Herculano), e um raro e magistral exemplo da língua portuguesa a ficcionar primórdios da sua história, num épico de cavalaria ibérico<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzpXbkl_UPVPSAdhgB9Sb0DFep-rHkwgnUpcxIdEhWog_P3pKKvawwiyNvS_ThCYY2AFYU9RcctBwAO8KumMflV6yIxejksvBDeFvtXZ6EpdNovATIOusCIuGOrqPobyqH2I9F7s-e1EK4KKzGVt2J8k6V68ad9XmBz0iIrVZS_VqtVTW1mNpz/s782/Captura%20de%20ecr%C3%A3%202023-12-11%20140214.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="782" data-original-width="636" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzpXbkl_UPVPSAdhgB9Sb0DFep-rHkwgnUpcxIdEhWog_P3pKKvawwiyNvS_ThCYY2AFYU9RcctBwAO8KumMflV6yIxejksvBDeFvtXZ6EpdNovATIOusCIuGOrqPobyqH2I9F7s-e1EK4KKzGVt2J8k6V68ad9XmBz0iIrVZS_VqtVTW1mNpz/w520-h640/Captura%20de%20ecr%C3%A3%202023-12-11%20140214.png" width="520" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/beau-simmons-together-as-one-1" target="_blank">Together As One</a> - Beau Simmons (2023)</div><div class="separator" style="clear: both;"><br /></div></div><p style="text-align: justify;">A imagética que serve de substrato à literatura de ficção não cobre irmãmente os tempos históricos ao dispor. Há períodos sobre os quais os intentos literários são praticamente inexistentes, e facilmente nestes poder-se-ia referenciar os séculos que antecedem a fundação da nação portuguesa. É precisamente sob essa zona de razia de criação literária que se insere a história de 'Eurico, o Presbítero' a qual narra uma península ibérica fragmentada territorialmente, cristã, sob um conturbado comando visigodo.</p><p style="text-align: justify;">Se desse tempo há naturalmente para descrever múltiplas efemérides bélicas e políticas decorrentes das pelejas para fazer vingar a soberania dos povos ibéricos, marcadas tanto por dissenções internas como pela grande ameaça muçulmana, a mestria de Herculano faz emergir a personagem polivalente de Eurico um guerreiro (gardingo) convertido a padre (presbítero) e resgatado a temível cavaleiro (cavaleiro negro) por força de circunstâncias de vida ou morte do seu Deus, do seu povo, e da sua amada.</p><p style="text-align: justify;">A personagem de Eurico e os contextos que a acompanham conferem uma polissemia interessante à obra que permite entendê-la para lá do âmbito histórico óbvio em que decorre; reflete-se também na organização social (classes), na psicologia humana (paixões), e ainda na dimensão moral (a vivência da fé cristã) pelos visigodos.</p><p style="text-align: justify;">Para quem, como eu, não valoriza enquanto tema a guerra e a violência, ressalvo desta obra a ousada sediação a tempos tão pouco familiares de dilemas tão atuais como a frustação do amor por motivos de estatuto social ou económico; e a lógica do celibato como fator de castidade e pureza divina em líderes espirituais.</p><p style="text-align: justify;">Sendo a história de Portugal tão pródiga em dinastias monárquicas, tão vasta no espaço temporal que abarca, e tão coroada pela expansão marítima pelo mundo, Alexandre Herculano assinala com esta obra um ponto de honra a todos os que defenderam a Península Ibérica e a quiseram consolidar como território uno.</p><p style="text-align: justify;">Cabe a cada um definir o que considera ter de estar reunido para que uma obra seja considerada magistral e para que um escritor possa ascender ao púlpito restrito dos predestinados, mas creio que Alexandre Herculano, com Eurico, exponencia uma qualidade criativa, um estilo de escrito, e um domínio linguístico superlativos digno dos melhores maestros literários em português.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-62176416106720240282023-11-23T06:38:00.000-08:002023-11-24T03:04:30.620-08:00Álbum do mês (10 e 11/2023): 'A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana' (Titãs, 2001)<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsKqabEnlx-o7sjznfAWmfCp_kiVh2yMXoRR6Qaj3fW99C_VUUtWn5p6nFK19ivXeXmLHngOrJnmGn6YaRTPticTsUy6ZRC4uPDN3PCrPjMV8yakZwxyrml5vQT05EAj07GoF7XCbf1PISWpPrUEFsCfTcohCa0jzqIyPiFO9bIcjY4LEkIbwR/s1069/715aKM9CNKL._AC_SL1069_.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="966" data-original-width="1069" height="578" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsKqabEnlx-o7sjznfAWmfCp_kiVh2yMXoRR6Qaj3fW99C_VUUtWn5p6nFK19ivXeXmLHngOrJnmGn6YaRTPticTsUy6ZRC4uPDN3PCrPjMV8yakZwxyrml5vQT05EAj07GoF7XCbf1PISWpPrUEFsCfTcohCa0jzqIyPiFO9bIcjY4LEkIbwR/w640-h578/715aKM9CNKL._AC_SL1069_.jpg" width="640" /></a><br /><br /></p><p style="text-align: center;"><iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="352" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/album/71XhBGySJjyGOSHGVelZ4K?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-3192773420538150442023-11-06T00:42:00.017-08:002023-11-06T00:46:28.202-08:00Efígies de substância (2023.7): ter opções é saudável e um garante de liberdade, mas gerir demasiadas opções é como perder o livre arbítrio e ter de atuar como se na ausência delas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhDTmNNBfYCw0bhuKzbydELTOQ65NDicggdhK8_3wHVyKgf226W0ECzADdrkrdpY1oaq0-fGaEH8nACXOqOWClYrdBeMHvIMv4ezCQkWlSlvq1BNJW-RzAyvOJeydpcKg59GRxYxNUcz16D-2s8U3XUQdfjiiTsbFL91iLc8Ae8n9gugypc3Yiw" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhDTmNNBfYCw0bhuKzbydELTOQ65NDicggdhK8_3wHVyKgf226W0ECzADdrkrdpY1oaq0-fGaEH8nACXOqOWClYrdBeMHvIMv4ezCQkWlSlvq1BNJW-RzAyvOJeydpcKg59GRxYxNUcz16D-2s8U3XUQdfjiiTsbFL91iLc8Ae8n9gugypc3Yiw" width="400" />
</a>
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p>* * *</p><p style="text-align: left;">Efígies de substância visa estimular o pensamento e reflexão pela força do génio de cartoonistas capazes de surpreender e deliciar com as suas criações.</p></div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-56534445196144683532023-11-05T21:53:00.001-08:002023-11-13T01:09:27.457-08:00Sobre o filme 'O Conde de Monte Cristo', e os prós e contras de se eternizar clássicos da literatura mundial através da grande montra norte-americana dos ecrãs de cinema<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaWFQbfCj_soGmvG7tp_09fAA1P95se2of8DUB5eBJhJ-OApK3EncCQ9LBm_JilgexFAgbnXTKXkYsb8Z9dH3oFQhVtqvyJEW7ko-6wadu76Foa63AH9F-Br7SDjbKNNr6mI7WwpRXHfxydsx93rRq9vARMLwYwII-3FtaMCoFH4YD4wd5pCaz/s689/CONDE3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="497" data-original-width="689" height="462" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaWFQbfCj_soGmvG7tp_09fAA1P95se2of8DUB5eBJhJ-OApK3EncCQ9LBm_JilgexFAgbnXTKXkYsb8Z9dH3oFQhVtqvyJEW7ko-6wadu76Foa63AH9F-Br7SDjbKNNr6mI7WwpRXHfxydsx93rRq9vARMLwYwII-3FtaMCoFH4YD4wd5pCaz/w640-h462/CONDE3.jpg" width="640" /></a></div><br /><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não existe uma relação cambial que estipule quantos minutos de sétima arte devem ser criados para cada centena de páginas de literatura. No caso concreto de <a href="https://www.imdb.com/title/tt0245844/?ref_=tt_mv_close" target="_blank">O Conde de Monte Cristo</a> (livro de Alexandre Dumas publicado em 1844), as mais de mil páginas do original permitiram ao realizador Kevin Reynolds assinar em 2002 um filme de belo efeito que entretém o espectador por mais de duas horas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Quando se parte de uma obra literária consagrada o que de mínimo se pode pedir é que o filme não estrague o original, desde logo porque há um duplo risco: defraudar expetativas de quem leu o original, e acalentar falsas expectativas a quem depois do filme se decida aventurar pela leitura do original. Não estou em condições de me pronunciar sobre qualquer desses riscos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O que sim posso aludir é ao belo efeito da história, para o qual contribui a vistosa representação de Jim Caviezel no papel da personagem principal Edmond Dantes, a qual peca pela língua falada ser o inglês. Convém sublinhar que a história é francesa, parte de uma conspiração em torno de Napoleão Bonaparte, a ação é centrada em Marselha e Paris, e tem o mediterrâneo como palco. Pouco ou nada tem que ver com o universo americano, exceto pela popularidade da história atingir escala global, situação muito apelativa para a máquina capitalista que preside ao cinema norte-americano.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não obstante, fazer encaixar este clássico francês na grande montra norte-americana dos ecrãs de cinema é ainda assim o coroar de uma história notável que funciona muito bem como filme, pois tem os condimentos de aventura, vingança, amizade e amor que nos falam diretamente ao coração. Se este tiver de ser o caminho para não deixar morrer grandes livros num tempo em que não há tempo para ler, então podemos ter esperança de que tão magistrais histórias não cairão no vazio facilmente.</div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-37903604050443345472023-10-25T09:59:00.009-07:002023-11-06T00:47:13.194-08:00Sobre o filme 'O Curandeiro', e uma pungente história verídica polaca que mostra como o saber é também capaz de conferir (e restituir) identidade ao homem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOlLVbWibJNZGmLOubXwcu3c1j6eMIv0DWgILe1ecOhLtpH9pM_SDS1EKD4pkyIFZVLqC-AAjJxKNre5tSxb-4vobnp3sa2NHA450Bdiiue6uXITTG2zjEtBu3QwrG1o1_OHNkInqHMC_DqU5C2nUdjUuIztegNucdFHaCS7HjJYHtblsl83kT/s1024/O%20curandeiro%20netflix.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOlLVbWibJNZGmLOubXwcu3c1j6eMIv0DWgILe1ecOhLtpH9pM_SDS1EKD4pkyIFZVLqC-AAjJxKNre5tSxb-4vobnp3sa2NHA450Bdiiue6uXITTG2zjEtBu3QwrG1o1_OHNkInqHMC_DqU5C2nUdjUuIztegNucdFHaCS7HjJYHtblsl83kT/w640-h360/O%20curandeiro%20netflix.jpg" width="640" /></a></div><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Nem sempre Os filmes recomendados por conhecidos proporcionam de facto bons momentos de cinema. Nesta linha de pensamento, confesso que comecei a ver <a href="https://www.imdb.com/title/tt26596953/" target="_blank">O Curandeiro</a> (direção Michal Gazda) mais por cortesia do que por motivação própria, cativado ao de leve por se tratar de um filme de época e também por ser filme polaco, combinação inédita para mim na sétima arte. Este filme é inspirado numa história verídica e conta a história de um pioneiro neurocirurgião (Rafal Wilczur, interpretado por Leszek Lichota) que se vê envolvido numa tentativa de homicídio que o deixa com mazelas severas, nomeadamente uma amnésia profunda. O grosso da trama passa pela recuperação da sua identidade pessoal e pela restituição da sua família, mais precisamente o reencontro com a sua filha (Maria Jolanta Wilczur, interpretada por Maria Kowalska). </p><p style="text-align: justify;">Este filme revelou-se para mim uma quasi obra-prima e por isso merece toda a recomendação da minha parte. Não apenas a recriação histórica é amplamente rica nos cenários e adereços, cobrindo opostos como os meios urbano e rural, e as classes aristocráticas e aldeãs, como também o é na evidenciação das bases populares da cultura polaca, através de um elegante encaixe da história nos usos e costumes característicos do povo e do tempo histórico em que ação se passa. Há uma profusão de beleza e harmonia em várias passagens do filme, e o efeito de intensidade junto do espectador não é alcançado pela agudização insensata de passagens propensas ao trauma ou violência. O filme consegue demonstrar que a vida flui ainda que com problemas existenciais a incidirem em pano de fundo, sem impedir os pequenos e banais momentos que ocupam o quotidiano.</p><p style="text-align: justify;">Como proteína para reflexão, <a href="https://www.imdb.com/title/tt26596953/" target="_blank">O Curandeiro</a> suscita o tema do currículo e prestígio individual como a base social da acreditação profissional, a qual é a antagonizada na história pelo crime de charlatanismo. O amnésico Wilczur, que não recordava a sua identidade nem a sua profissão de aclamado neurocirurgião, recuperou ambas através da demonstração de competências técnicas e científicas que desconhecia em si, mostrando que a prática e o conhecimento demonstrado em momentos-chave são capazes de (re)conquistar reconhecimento público independentemente do diploma que lhe subjaz. O saber não ocupa espaço - costuma-se dizer - e este filme mostra que o saber é também capaz de conferir identidade ao homem.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-27457436609648663142023-10-10T12:24:00.004-07:002023-10-10T12:30:06.230-07:00Sobre a histeria a respeito do aquecimento global, e a falta de histeria a respeito de sermos 8 mil milhões de humanos no planeta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNRBEih4Dud3qI5RabUicrBqDXeaLHfjL-fMN0ir3HtlmDBdMyhuJw_uQxD9E4rQVFUmkXhVv3upho6FaZgdNV7fAAjEZj6IEXR3e-yV8UvrtaQa0HMwnsvwU7MFVxvuR7LSqHNYN3E7lPiQzCs3yxhMuJLRX96UykBEHSJZTj1dpvEhF2L5TD/s719/spencer-tunick-sydney-3.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="719" height="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNRBEih4Dud3qI5RabUicrBqDXeaLHfjL-fMN0ir3HtlmDBdMyhuJw_uQxD9E4rQVFUmkXhVv3upho6FaZgdNV7fAAjEZj6IEXR3e-yV8UvrtaQa0HMwnsvwU7MFVxvuR7LSqHNYN3E7lPiQzCs3yxhMuJLRX96UykBEHSJZTj1dpvEhF2L5TD/w640-h512/spencer-tunick-sydney-3.JPG" width="640" /></a></div><p style="text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/spencer-tunick-sydney-3" target="_blank">Sydney 3</a> - Spencer Tunick (2010)</p><p><br /></p><p style="text-align: justify;">Se não somos ainda capazes de prever cabalmente a meteorologia a sete ou quinze dias, não creio que estejamos em condições de prever com confiança o que vai acontecer em matéria de aquecimento global. Temos seguramente evidências de que a temperatura está a aumentar, e temos estudos a dizer que é devido à ação humana. </p><p style="text-align: justify;">Sabemos que a ação humana é proporcional às tecnologias que usamos e hábitos que temos, mas é também proporcional à intensidade com que recorremos ou dependemos dessas tecnologias e à frequência desses hábitos. Não só à intensidade e frequência individual, mas também à intensidade e frequência coletiva. Por coletiva entenda-se o número de pessoas que habitam o planeta.</p><p style="text-align: justify;">Este planeta expandiu a população mundial para 8 mil milhões de habitantes e não foi pela falta de comida que rebentou pelas costuras (bem haja processo Haber-Bosch). Falta saber se será pelo dióxido de carbono (e demais gases de estufa) que sobreaquecem o planeta.</p><p style="text-align: justify;">O desassossego que devemos ter e que vale mesmo a pena procurar ter é o de querer saber imparcialmente o que vai acontecer, não de vaticinar o que vai acontecer, porque não há certezas. Temos assistido a histerias em nome do clima que mostram que também hoje se vive um assombro profético fatalista de pouca base de sustentação.</p><p style="text-align: justify;">A montante de tudo isto paira a questão sobre se o problema não é, tão só, os tantos humanos a respirar e fazer coisas pela vida fora. Como se resolve isto? Nada fazemos para impedir que o número de seres humanos continue a subir, e isso quer dizer que qualquer fosse o estilo de vida vigente, o problema da sustentabilidade devido ao número de habitantes do planeta seria sempre uma questão de tempo até se colocar em cima da mesa. Imagine-se 8 mil milhões de índios amazónicos - com o seu estilo de vida - a pescar, caçar, abater árvores e fazer fogueiras todos os dias. Não seria esse caso igualmente um perigo real e de dimensões assustadoras para a vida no planeta?</p><p style="text-align: justify;">Se para cada um de nós esta é a primeira (e única) vez que vivemos neste planeta, a verdade é que para o planeta esta é a primeira e única vez que aloja tantos humanos, humanos sedentos de produzir e consumir, seja peixe, milho, carvão ou petróleo. O impacto seria sempre inevitável, e as consequências incertas, porque é intrínseco a qualquer novidade: ninguém está robustamente preparado para lidar com o que é novo.</p><p style="text-align: justify;">Certo é que a solução, a existir, nascerá do seio desses 8 mil milhões de seres humanos. Sermos muitos também cria confiança de que seremos capazes de encontrar mais e melhores soluções para problemas planetários extremamente complexos.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-84161053908480670622023-10-02T21:58:00.005-07:002023-10-10T02:43:03.721-07:00Sobre a crise migratória e a famigerada fuga de cérebros à luz da fábula dos três porquinhos<div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhklVtTC3GXvRnua5NwRsHHkB94h4esRptBjYsa4220U_iLYD7q2iO-fIxuexa_GLRHjbB7nI7JzVeAzNPt1nFfw1u-9oifeKEhG2OMOz1fvZpVDClKB6heMn5gMuaSUhAxEw_EqBXMMUrDGVTVBeen0_ra4yOczFh_tn2fvYjosV_ehp6zuD2H" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhklVtTC3GXvRnua5NwRsHHkB94h4esRptBjYsa4220U_iLYD7q2iO-fIxuexa_GLRHjbB7nI7JzVeAzNPt1nFfw1u-9oifeKEhG2OMOz1fvZpVDClKB6heMn5gMuaSUhAxEw_EqBXMMUrDGVTVBeen0_ra4yOczFh_tn2fvYjosV_ehp6zuD2H" width="400" />
</a>
</div><br /></div><div><div><a href="https://www.artsy.net/artwork/friedensreich-hundertwasser-houses-in-rain-of-blood-hauser-im-blutregen">Houses in Rain of Blood</a> | Häuser im Blutregen - Friedensreich Hundertwasser (1961)</div></div><div><br /></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">A crise migratória rumo à europa tende a ser vista como algo distinto da emigração dentro da própria europa mas é possível unificar estes êxodos à luz da fábula dos três porquinhos. Isto sem fazer tábua rasa às diferenças de desespero e risco inerentes a cada uma delas.</div><div><div><div><div style="text-align: justify;">Os migrantes que atravessam de barco o mediterrâneo podem muito bem ser os porquinhos que moram em casas de palha, e a quem o lobo mau (leia-se a guerra, a custo de vida, as alterações climáticas, frustração de expectativas) pôs em fuga. Infelizmente têm morrido demasiados durante a própria viagem de fuga, sem chegar alguma vez ao seu destino.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por sua vez os emigrantes que abandonam Portugal para, sob o rótulo de fuga de cérebros ou outro, se dirigirem a mercados de trabalho europeus que pagam salários mais generosos e com isso permitem outras regalias, são os porquinhos da casa de madeira que também não resiste ao lobo mau. Dá mais luta mas não resiste. Estes não morrem na viagem de fuga, porque a estrada da casa de madeira para a casa de tijolos é mais segura e vigiada.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Há um conjunto restrito de países que reúne condições para ser considerado casa de tijolos que resiste ao lobo mau. É para esses que se dirigem os barcos, os aviões, os comboios, as massas. Poderemos dizer num primeiro momento que porque fogem desde posições longínquas se movem para a Europa, mas isso é ver a corrida dos porquinhos da casa de palha como se fosse dirigida indistintamente às de madeira e tijolos, como se ambas fossem a mesma coisa. Numa segunda leitura a corrida é apenas para a casa de tijolos, a única que será capaz se resistir ao lobo mau.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E se este êxodo social descrito encaixa competentemente na fábula dos três porquinhos, há uma coisa que não o faz e é terrível na consequência que aporta: os porquinhos são muito mais do que três, e não haverá espaço para todos nas casas de tijolo, o que leva a que muitos tenham de viver a sua vida inteira em casas de palha e de madeira, e sobreviver ao lobo sendo criativo nas formas de o enfrentar ou evitar.</div></div></div></div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-64900885517847621522023-09-22T02:07:00.002-07:002023-11-24T03:04:44.711-08:00Álbum do mês (09/2023): 'underwater' (Ludovico Einaudi , 2022)<p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO3VEBamylLzEyR7TMYec4EihBbbSn89Hh6VRB0f4BV-3_XkJt78qOY5ySwhGCC8hPn9NyHPT8K5uHD5qrWbkmfHnd3mD8JuKS3H7ZJaRHHaoTmRxwB9QePezUUyi-axkNQofvO6n45xoIUFiIblsxU5EiF7roy01KbC5N7i9nV9grdgrpJEqd/s1000/underwater_cover.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1000" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgO3VEBamylLzEyR7TMYec4EihBbbSn89Hh6VRB0f4BV-3_XkJt78qOY5ySwhGCC8hPn9NyHPT8K5uHD5qrWbkmfHnd3mD8JuKS3H7ZJaRHHaoTmRxwB9QePezUUyi-axkNQofvO6n45xoIUFiIblsxU5EiF7roy01KbC5N7i9nV9grdgrpJEqd/w640-h640/underwater_cover.png" width="640" /></a></div> <p></p><p style="text-align: center;"><iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="352" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/album/3DT821mYJb7Ore88vA8IOO?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-77907370726398598692023-09-20T04:11:00.022-07:002023-09-20T04:46:03.331-07:00Efígies de substância (2023.6): cada missão individual no mundo alimenta-se de objetivos finais claros, mas o verdadeiro prémio poderá ser apenas o percurso até os atingir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi5u7rQpByj7vY_iDupK6ezm4L2SpKSEgFhXQ-AjVcZaFxnrCLaWMz1WNmYRvTa53J-PF4mTlJkLQc_AfrlEKbt4oKJTP0gwlBUqZMuadvsQYod9XPf3MqTVPxeGFKUfB8WS2b9AN1fW19a7JyyZYpdAH-tQ6HBb5Wnclv9Zqxe0Yud0S8fUfEP" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;">
<img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi5u7rQpByj7vY_iDupK6ezm4L2SpKSEgFhXQ-AjVcZaFxnrCLaWMz1WNmYRvTa53J-PF4mTlJkLQc_AfrlEKbt4oKJTP0gwlBUqZMuadvsQYod9XPf3MqTVPxeGFKUfB8WS2b9AN1fW19a7JyyZYpdAH-tQ6HBb5Wnclv9Zqxe0Yud0S8fUfEP" width="400" />
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</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p>* * *</p><p style="text-align: left;">Efígies de substância visa estimular o pensamento e reflexão pela força do génio de cartoonistas capazes de surpreender e deliciar com as suas criações.</p></div>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-39493780234175614782023-09-06T01:38:00.007-07:002023-09-18T01:42:24.621-07:00Sobre os antípodas entre a projeção platónica dos assuntos e a impressão informada desses mesmos assuntos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha6GExQY8c3koxVC4wLavEG_o6Z5jJayJwFs1wjGtn6mQ7eOlYfHrMVMMeoiz4yEiV9CL7Yj2DdGarJhNYYlmBIMw00_7xfe5DE1VsDL_E9YiSvgZWDhcxCxt9LVMDkDv8yxISIdUGa-5V7U8y4EoTnn9VyGitLowC8JOQv-S-v-U_hrjGrfka/s1119/Raymond%20Han%20planotic%20discourse.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="969" data-original-width="1119" height="554" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEha6GExQY8c3koxVC4wLavEG_o6Z5jJayJwFs1wjGtn6mQ7eOlYfHrMVMMeoiz4yEiV9CL7Yj2DdGarJhNYYlmBIMw00_7xfe5DE1VsDL_E9YiSvgZWDhcxCxt9LVMDkDv8yxISIdUGa-5V7U8y4EoTnn9VyGitLowC8JOQv-S-v-U_hrjGrfka/w640-h554/Raymond%20Han%20planotic%20discourse.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/raymond-han-platonic-discourse" target="_blank">Platonic Discourse</a> - Raymond Han (2001)</p><p style="text-align: center;"><br /></p><p style="text-align: justify;">A projeção platónica dos assuntos e a impressão informada desses mesmos assuntos são antípodas entre si. Quanto mais se investiga e disseca menos cada assunto resiste ao cenário romântico e assume contornos de realismo, mas não sem que se pague um preço, o preço de alguma perda de magia das coisas, e o preço de não conseguir ter certezas ingénuas.</p><p style="text-align: justify;">A projeção platónica permite-nos efabular ou dramatizar contextos reais toldando-os com uma meteorologia sentimental ou idealista de incerta correspondência com a realidade. Isto faz com que as ditas circunstâncias e fases da vida visadas sejam encaradas com intensidade sob um ângulo ou enquadramento muito específico, potencialmente marcada por excesso de expectativas e exageros que intensificam o sabor dos assuntos apreciados. Há pessoas que se dão ou caem em demasia neste lado platónico, e enleiam-se em fragilidades psicológicas que as consomem e alienam até. Os processos de perda, de solidão, de saudade, de enamoramento, de trauma, são todos todos muito dados a delírios. Fica por responder por que o fazemos, não tendo eu resposta pronta e convicta para isso. Mas não parece ser uma vantagem evolutiva.</p><p style="text-align: justify;">Por sua vez, pessoas ou culturas tidas como pragmáticas tendem a agrilhoar-se em menor grau em processos de projeção platónica, adquirindo ao invés uma operatividade sobre os assuntos que substitui o estado contemplativo e as fazem parecer desumanas e insensíveis. Elas investem raciocínio e perspetiva sobre os assuntos e colhem em troca lampejos de relativização e de esvaziamento de drama, o que faz emergir uma capacidade de resposta mais produtiva e ponderada. Estas pessoas tenderão a ser classificadas como mais frias, distantes, impassíveis, mas podem também ser aquelas que melhor se norteiam sob ambientes ou circunstâncias delicadas.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-21390481330072133712023-08-31T04:13:00.005-07:002023-11-24T03:04:53.381-08:00Álbum do mês (08/2023): 'Fields' (Junip, 2010)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP789BZeQgk2P5W7vDDCeq6NPPgyhl1hXuLhf-qycxcYByUU03-VyRVT8VP5JcxxYVNXFYfAHfwcKgG0rmgJ1UpaGh2jEDinU-ew_lr-CCht3oPYLxjAyFvxfIVnyVMeeMrEAikOnSS6HJqLYbKu-wZOr1jPaXQ49V3XdcIlHx7Hj4azp-Q3jQ/s600/R-2513829-1292355649.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP789BZeQgk2P5W7vDDCeq6NPPgyhl1hXuLhf-qycxcYByUU03-VyRVT8VP5JcxxYVNXFYfAHfwcKgG0rmgJ1UpaGh2jEDinU-ew_lr-CCht3oPYLxjAyFvxfIVnyVMeeMrEAikOnSS6HJqLYbKu-wZOr1jPaXQ49V3XdcIlHx7Hj4azp-Q3jQ/w640-h640/R-2513829-1292355649.jpg" width="640" /></a></div><br /><iframe allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="352" loading="lazy" src="https://open.spotify.com/embed/album/7LMaY3Yah3TMepmzWWYGll?utm_source=generator" style="border-radius: 12px;" width="100%"></iframe><p></p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-36442528.post-59891963674821452632023-08-29T06:36:00.002-07:002023-08-29T06:36:32.490-07:00Sobre o desejar uma boa semana aos outros, e o que isso pode significar para cada pessoa em função do seu contexto pessoal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOgViFG5i_9knwNkgRmKMu7i7AJ34xvISPezveAx3bGnaYZgOBMeYRF2H9nd7AqzxN4PdUs8uWVWx6gSThITk48bsiYEWlRt3dCjL0LPeOoD35saqbN-2OhSDJx4k7n-m2gEYPA-_YYLT9IGegfDt1iyLq4zDEfe8viHGl-QYEZeEbq2znR4gW/s843/hannah-morris-time-share.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="843" data-original-width="842" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOgViFG5i_9knwNkgRmKMu7i7AJ34xvISPezveAx3bGnaYZgOBMeYRF2H9nd7AqzxN4PdUs8uWVWx6gSThITk48bsiYEWlRt3dCjL0LPeOoD35saqbN-2OhSDJx4k7n-m2gEYPA-_YYLT9IGegfDt1iyLq4zDEfe8viHGl-QYEZeEbq2znR4gW/w640-h640/hannah-morris-time-share.jpg" width="640" /></a></div><p style="text-align: center;"><a href="https://www.artsy.net/artwork/hannah-morris-time-share" target="_blank">Time Share</a> - Hannah Morris (2023)</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Por força da vida profissional que tenho levado, marcada por deslocalizações face aos locais onde residem os meus familiares diretos, habituei-me a despedir-me deles aos fins de semana com votos de "Boa semana", que sinaliza o lapso de tempo do lanço de trabalho seguinte até novo descanso e até nova oportunidade de reencontrá-los.</p><p style="text-align: justify;">Numa das últimas utilizações desta expressão, por a ter aplicado a um conjunto marcadamente diferente de pessoas, quer na faixa etária quer nas circunstâncias que estão a viver, dei comigo a indagar-me sobre o que significaria para cada uma delas ter efetivamente uma boa semana. A questão é intrusiva pois obriga a inferir ou adivinhar o que se passa na vida de cada pessoa a quem foi dirigida, mas sem essa dose especulação só por inquérito direto se saberia a resposta.</p><p style="text-align: justify;">Especulando, para uma pessoa que trabalha e tem filhos de tenra idade ter uma boa semana pode ser conseguir que tudo flua sem inesperados que obriguem ao absentismo no trabalho ou a malabarismos que impliquem idas a médicos ou a estadias forçadas em casa. Para uma pessoa que está doente, ter uma boa semana é recuperar, passar sem dores e complicações, ou não incorrer num agravamento da situação. Para uma criança, ter uma boa semana é brincar muito, comer guloseimas, desfrutar com os coleguinhas. Para um idoso ter uma boa semana é não adoecer, não cair, não se sentir só, não se sentir velho. Pode também ser recordar bons episódios passados, sonhar com alguém que já partiu e com isso recordá-la.</p><p style="text-align: justify;">Esta lista poderia não ter fim: o que mais há é pessoas com circunstâncias particulares. Para cada uma delas, ter uma boa semana significará algo diferente, simples ou complexo, algo que talvez nem saibamos compreender plenamente. Em qualquer caso que se imagine, a pessoa em questão quererá certamente ter uma boa semana à sua maneira. É impossível atingir a felicidade sem que isso se traduza num acumular boas semanas de vivência.</p>MMhttp://www.blogger.com/profile/07625722248606115803noreply@blogger.com0