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Sobre a atitude filosófica ao viajar

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Recordo-me bem de algumas coisas que aprendi nas aulas de filosofia do ensino secundário, as quais complementei com leituras esporádicas no âmbito desse tema. Uma das ideias que mais fixei foi a da atitude filosófica, comparável à de uma criança que por ainda não estar habituada ao mundo se vai espantando com tudo o que experiencia como se se fosse a primeira vez.

Nesta linha de entendimento, acredito estar hoje a viver a terceira vaga de atitude filosófica da minha vida, na medida em que me encontro a estudar/trabalhar na Bélgica e ao fim de uma semana sinto estar a passar por uma etapa de contínua e intensa aprendizagem.

Olhar para as pessoas e tentar aprender rapidamente quais são as suas expressões, que tipo de coisas valorizam, como reagem em situações do dia-a-dia, que tipo de rotinas têm, e por aí fora…

Começo a pensar que morar num país diferente é de facto uma via privilegiada para uma aprendizagem profunda do que é o homem e daquilo que difere mas também que não difere entre os povos. Não é que o país de onde somos originiários não seja suficientemente vasto para que possamos encontrar a diversidade comportamental humana, simplesmente a estadia demorada no estrangeiro agudiza a experiência e torna-a num facto altamente impactante na concepção do mundo e de nós próprios.

É possível ir um pouco mais adiante e afirmar que, no cerne desta experiência radical, talvez um elemento-chave que possa contribuir de modo bastante substantivo para a dimensão profunda da vivência no estrangeiro seja o de estarmos despojados de muitos bens pessoais e apartados das pessoas que caracterizaram a nossa vida até então. Se numa questão de horas uma viagem de avião nos puser a viver à base do conteúdo de duas malas e apenas com contactos telefónicos com as pessoas que são a nossa família e os nossos amigos, saberemos que será inevitável incorporar os bens e conhecer pessoas do novo lugar que nos servirá de casa. É neste tabuleiro que se joga a atitude filosófica, porque a descoberta acaba por ser inevitável para nós como o é para cada criança em processo de aprendizagem.

Claro está que, para um adulto, o processo de aprendizagem de novos estilos de vida e novos aspectos de um país diferente, despoletam uma natural acção comparativa entre o que ficou para trás e aquilo com que nos deparamos no novo mundo que nos é apresentado.

De qualquer forma, importar registar que só passando por uma experiência destas ou por mais do que uma é que nos é dado verdadeiramente a convencer que a humanidade não se esgota naquilo que somos ou estamos habituados, existindo muito mais para além do nosso conhecimento. Aí está a beleza de viver.

1 comentário:

  1. caro Marcelo Melo
    se bem me lembro, comentei algo seu sobre a emigração, não tendo eu uma opinião muito favorável em relação aos emigrantes portugueses, em geral.
    Pois bem, ei-lo pertencendo a esse grupo, não sei temporariamente ou não, mas trabalhando num país estrangeiro. Estou certo que você faz parte daquela pequena fatia da emigração portuguesa que não olhará para o seu país com desdém, e que fará por melhorar, e muito, a imagem dos portugueses.
    Muito os jovens estrangeiros têm para aprender consigo, meu caro jovem amigo.
    Muitas felicidades.
    Um abraço de amizade.

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