Quando a liberdade nos é dada de mão beijada num sociedade, temos duas hipóteses: recebê-la como quem recebe uma herança de família que não tem o sabor de uma conquista mas dá algum prazer ter e que não fica bem dizer que não; ou então recebê-la e tentar perceber o que é, para que serve, como a concretizar.
A liberdade é o direito a falarmos, se quisermos falar, mas também o direito a ficarmos em silêncio; é o direito a avançar ou recuar, a preocuparmo-nos ou a desleixarmo-nos. A liberdade não é nada de concreto, porque é tão somente uma folga entre dois pólos, uma margem para optar. Ela enforma a possibilidade de optar por isto ou aquilo, mas nem é isto nem é aquilo.
Por isso, nunca o problema é a liberdade que as pessoas têm, porque pouco há de mais humano e superior do que a noção de liberdade (a todos os níveis). O problema é o que nos apetece fazer com ela: e há a este nível demasiados a anularem a sua liberdade, baixando a cabeça e arrebanhando-se em massas , na esperança - arrisco dizer - que a soma de desistentes faça por si só surgir uma estrutura livre e que os resgatará da... liberdade que já têm. Algo não está certo nesta equação.
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