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Sobre o mal e a maldade

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Compareci no passado dia 8/10/2013 ao evento promovido pela Universidade de Aveiro, em particular CICECO (estrutura de investigação a que pertenço), à primeira de um ciclo de palestras sobre o mote "Havíamos de falar disso" cujo tema foi "o mal".

"Qual o papel da intencionalidade na perceção do mal?" Esta foi a questão que coloquei aos oradores (Valter Hugo Mãe e Pe. Anselmo Borges), tentando ser o mais claro e curto possível. 

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Quando falamos do mal, seguramente não estamos a falar da maldade. A maldade remete para o ser humano, para a sua ação, o seu censurável comprometimento com práticas que a cultura ou o juízo individual sugerem ser perniciosas para a Humanidade.

Quando discutimos o mal e o cristalizamos em exemplos como Auschwitz, arrepiamos caminho para começar a falar da maldade humana. Quando falamos das consequências mortais de um tsunami, aí sim falamos do mal. O mal tem imperiosamente de ser discutido num plano superior, divino, se quisermos, sendo o resto (maldade) o 'pequeno' delito humano, fácil de perceber e delimitar.

Ao não se encontrar uma intencionalidade para que aparentes inocentes percam a vida em desastres naturais, nada que o justifique à luz da sapiência humana, a percepção do mal muda de figura: o discurso não se suporta tanta em ódio ou rancor ao próximo, antes na incompreensão da vida e das suas linhas gerais.

Em português temos a expressão "um mal necessário", que muito merece ser debatida: afinal, precisamos ou não precisamos que o mal exista e se manifeste? A cultura budista diz-nos que todo o homem sente dor, e que é o encontro caminho do meio (a Recta Ação) que leva à sua supressão. O conceito de karma sugere que o mal é um mecanismo na natureza que atua na correção inevitável de caminhos desviantes do trilho da virtude.
 
Pela sua vertente racional, o homem procura insistentemente resposta para o "problema" do mal (desconhecendo-lhe intencionalidade), mas tropeça no seu narcisismo (a maldade), impele-se a travar-se de intenções com esta. E arrola Deus, a Morte, as calamidades ou a Filosofia para o desmontar a maldade, ficando como sempre o mal por explicar.
 

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