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Sobre a capacidade de apreciar melhor e mais aprofundadamente

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Flower Study - Andrey Aranyshev


A política da quantidade que carateriza os tempos de agora faz-nos subrepticiamente desejar incessantemente calcorrear a novidade em detrimento do que já nos foi apresentado. Com isto, alguém que queira abordar uma coisa junto de outra pessoa,  frequentemente recebe como troco seco a afirmação de que se já se conhecia, já se tinha visto, já se ouvira falar, encerrando precocemente o assunto. Cada pessoa transparece conhecer tudo, saber de tudo. Mas ninguém sabe tudo, e pelo meio perdem-se oportunidades  objectivas de aprendizagem.

Tenho meditado sobre este mecanismo e estou em crer que não é sensato. Um homem não é um leitor de códigos de barras que regista instantaneamente todo conteúdo que uma pessoa, um tema, um local, uma ideia, ou um objecto podem revelar. O conteúdo mais interno das coisas requer que a pessoa interaja com o mundo para lá da superficialidade que caracteriza o átrio da exploração sensitiva. Por explorarmos pouco essa interioridade do mundo, pouco ou nada sabemos dizer sobre uma infinidade de coisas que afirmamos  já conhecer. 

Porque a vinda de um novo ano é sempre um momento investido de oportunidade para a reinvenção interior, espero alcançar neste novo ano um maior respeito pelo que levianamente seria capaz de dizer que já conheço. Neste sentido, encetarei esforços por revisitar temas tenuamente explorados, com vista a saber efectivamente um pouco mais sobre esses assuntos. Obviamente que isto implica uma contenção no consumo de coisas novas. É troca por troca, e só haverá sentimento de perda se se conseguir provar que contactar com o novo vale mais do que contactar com maior qualidade e alcance com o que é "velho".

Que ao fim de cada dia possa ter percebido melhor aquele livro que já tinha lido, e uma mensagem de que não me apercebera. Que ao fim de cada dia possa revisitar um objeto e olhar para a sua forma, a sua cor, o seu cheiro, a sua função, o seu tamanho, a emoção que em mim suscita, e perceber um pouco mais do sentido da sua existência. Que ao fim de cada dia, possa ter conhecido um pouco melhor uma pessoa já conhecida, à luz das suas expectativas e anseios, dos seus ódios e amores, da sua personalidade e do seu lado mais divino. Que ao fim de cada dia tenha precisado menos da distração das coisas novas e tenha honrado e servido as que já existem.

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