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Sobre a perda de visão lateral, e os momentos de visão em túnel

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Imagem: Cono Norte (Los Olivos) - Lucia Koch - 2011

Quando a vida acelera a ponto de sentires que as coisas estão simplesmente a suceder-se demasiado depressa, perdes aquilo que poderemos chamar visão lateral, a qual diz respeito a toda uma percepção do cenário (humano, kármico, contextual) que rodeia o teu percurso no mundo. Precisas desse vislumbre para te convenceres e tranquilizares de que tens pulso sobre os passos que estás a dar, sob pena de cometeres erros e sofreres inadvertidamente as consequências dos erros de leitura da realidade.

Sempre chegará esse momento em que a vida acelera, por tempo variável mas finito, e em que a perda de visão lateral produz progressivamente uma visão em túnel. Sobre estes a nossa estimada língua portuguesa batizou tudo o que há para saber através da expressão "começar a ver a luz ao fundo do túnel": ninguém é feliz a viver sem percepção lateral, sobretudo quanto a consciência assinala que existem obstáculos a impedir a contemplação do mundo num sentido mais lato. É uma constrição da liberdade, e é difícil apreciar mordaças.

A fuga para a frente é o caminho seguido por quase todos os que vivem a realidade da visão em túnel. Não sendo um buraco negro que nos suga sabe-se lá com que destino, um túnel é, ainda assim, um tipo de experiência que nos conduz a uma saída em local a designar. A verdade é que de um túnel sempre saímos e, associado ao grande alívio de sair surge a oportunidade de contemplar um mundo "novo" para qual existe toda uma renovada motivação de viver. Esta perspectiva, de tão boa para o indivíduo, quase paga a dor e o preço da privação que o túnel causou. Vemos esta reação em pessoas que a doença atirou para um leito hospitalar, mas ela acaba por poder suceder a qualquer pessoa. Há que estar preparado para esse processo.

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