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Sobre o livro 'O falecido Mattia Pascal', e falcatruas em torno da identidade humana

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(Imagem: Mom's Friend Mr. Yerby- Latoya Ruby Frazier )


Não sendo um livro fora de série, "O falecido Mattia Pascal", do italiano Luigi Pirandello, conta uma história plena de relevância e senhora de um sentido de oportunidade literário meritório. Fala-nos esta obra da identidade humana e do que esta representa e influi em quem somos e sobre o nosso funcionamento.

Perante uma vida de desencanto, o bibliotecário Mattia Pascal torna-se inadvertidamente num insólito caso de sucesso na roleta do Casino de Monte Carlo, onde gera, no espaço de dias, fortuna suficiente para viver o resto da sua vida. Sucede que no entretanto do seu lance de sorte, é dado como morto na sua terra e sepultado como tal. Tudo por grande engano. Desta combinação de eventos resulta uma tentativa de viver uma putativa nova vida sob identidade fictícia com a ajuda do dinheiro arrecadado no jogo, rompendo com o passado. Adriano Meis (novo nome), acreditando na chance de ser alguém diferente do que havia sido, começa então a tropeçar nas lacunas da falta de um passado convincente que dê sentido ao seu presente e que projecto um futuro com sentido.

Acaba por render-se às evidências: não consegue fingir ser aquilo que não é. Este homem, tendo a rara oportunidade de poder construir uma identidade mais consentânea com o que esperaria de si e da vida, leva alguns meses a perceber que o movimento de expansão de liberdade que escolheu ao aceitar ser dado como morto constitui uma indelével constriução da liberdade com que poderá viver sob disfarce. Adriano Meis algum conseguirá aguentar olhar-se ao espelho e saber-se Mattia Pascal. A consciência é, neste sentido, tramada para falcatruas em torno da verdade e da justiça.

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