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Sobre a vida curta de se forjar a imagem pessoal à revelia de uma sólida honradez

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Imagem: Tower - Ingeborg + Bruno Asshoff (1985)


A contrapartida de se viver num mundo que privilegia a imagem pessoal em detrimento da honra pessoal, é que a vida deixa de ser regulada pela virtude, em detrimento da reputação social. Tudo passa a depender da boa gestão da imagem pública, na qual se falsifica ou não a ideia de que somos todos pessoas respeitáveis. Isto até ao dia em que se saiba de algo.

O que trava as pessoas do nosso tempo em relação a procederem de modo errado não é o saberem que estão a infringir um princípio por via dos seus atos livres, é o temerem que tal procedimento manche o modo como os outros as vêem. Assim, basta que um número suficiente de pessoas proceda erradamente para que a perceção de risco se esbata, e o crime/erro se propague sob a aura de uma cumplicidade que alegadamente a todos desculpa.

As más práticas instalam-se e, de repente, a justiça formal/institucional não consegue beliscar, combater, contrariar o caudal da fraude e do crime. E se é fácil deter a capacidade da justiça em corrigir tais erros, ou por via da escassez de recursos, ou pela saturação burocrática de processos, o que não é nada fácil é impedir que, de tempos a tempos, alguém se farte e levante elementos que tornam visível o que se anda a fazer em privado e às escondidas, provocando machadadas mais certeiras do que as que a justiça formal consegue dar.

Ao homem dos nossos tempos, o que o ainda chama à verdade é o tribunal da imagem pública, e esse não precisa de recursos financeiros nem de recursos em tribunal: basta que quem sabe das coisas fale. E há sempre quem saiba de alguma coisa. Ao descurarem a inoxidável honradez, as pessoas forjam uma nobreza e grandeza que se enferruja num ápice.

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