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Sobre a automatização parecer uma coisa boa mas a robotização não, e a recomendação de não se viver em piloto automático

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The Winch - Sybil Andrews (1930)

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Automático é um adjetivo conducente a uma impressão boa ou má? Para os humanos, a automatização de processos e mecanismos representa eficiência, produtividade, pluralidade de tarefas e, sob este prisma, pode surgir como uma fonte de maior qualidade de vida, na forma de liberdade, descanso, bem como oportunidade de enfoque noutras questões. Nem tudo pode ser automatizado, mas se algumas coisas o forem talvez as vidas se tornem melhores, assim esperam e acreditam muitos de nós, mais do que convencidos das virtudes inegáveis de poder delegar numa máquina o que outro fora uma fonte de preocupação e gestão. Neste sentido, automático é um adjetivo com veicula uma vantagem ou forma de lucro: carro automático, porta automática, sincronização automática, envio automático, controlo automático, etc.

Nos antípodas disto surge o adjetivo robotizado, cuja impressão que causa talvez seja bem menos consensual. Um robot de cozinha ou um aspirador robot são porventura máquinas simpáticas para automatizar muitos lares, mas convenhamos que quando promovemos automatismos em tarefas expetavelmente humanas, as vantagens podem compensar pouco: pensemos num atendedor automático de chamadas, e no modo como preferiríamos interagir com alguém de carne e osso. Nesta vertente, a robotização induzem necessariamente a uma degradação do valor original daquilo foi objetivo da automatização, diretamente ligada à desumanização do processo.

Acontece, porém, que, enquanto humanos, podemos deixar-nos cair em graus progressivos de robotização, a ponto de por distração, negligência ou deliberada decisão, passar a interagir com os outros e com o mundo em geral de uma forma automatizada, repleta de mecanismos impensados que nos garantem a manutenção do status quo mas que igualmente encerram um risco real de desumanização. A mesma que tanto lamentamos numa vending machine quando nos fica com o troco ou o produto preso, ou quando nos envia repetidamente um e-mail sem se aperceber de que o está a fazer. 

Em suma, estou em crer que gerir as várias frentes da vida num piloto automático é uma decisão arriscada mas de fácil acesso, basta que nos distraiamos e logo começam a surgir as decisões-robot, conversas-robot, reações-robot, e mais um conjunto de lapsos e falhas que magoam e mostram desconsideração pelos que nos rodeiam. A vida não é isso, e a diferença entre as pessoas hoje em dia joga-se muito na capacidade de contrariar a sua suscetibilidade de cair no robotização de si mesma na forma de gestão da vida em piloto automático.

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