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Sobre a imiscuição de figuras públicas em temas fora da sua matriz profissional, a arte de capitalizar com protagonismo mediático, e a subjetiva salvaguarda da liberdade de expressão

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A imiscuição de políticos, advogados, humoristas, músicos, jornalistas, ex-atletas, académicos, etc em temas do foro mediático que extravasam o seu universo direto de atuação e especialidade, sejam do foro da política, justiça, imprensa, negócios, desporto, ou cultura é vertiginosamente ubíqua em Portugal. Já me perguntei por que motivo determinadas pessoas se implicam deliberada e gratuitamente na defesa ou crítica pública de clubes de futebol, cores partidárias, atividades económicas ou preferências culturais, sem que isso seja vital para elas enquanto profissionais de uma dada área. A verdade é que o fazem.

Porque o fazem? Em primeiro lugar porque há vários a fazê-lo e a lucrar financeiramente com isso, e portanto não há pudor em seguir essa manada. Em segundo lugar porque consideram que se há público interessado em vê-las opinar ou entreter em domínios que não condizem com a sua matriz profissional, isso só pode ser bom para todos. Em terceiro lugar, fazem-no porque o protagonismo adicional que granjeiam a troco dessa exposição (um ganho intangível), seja favorável ou desfavorável, confere um poder mediático sobre o qual conseguem/podem capitalizar. A voz polémica, a assertividade na crítica ou a coragem para confrontar diretamente outras figuras públicas são valências que quer os públicos do entretenimento como do jornalismo muito valorizam.

Neste contexto, a caixa de pandora que se quer abrir ao forçar um clube de futebol a demarcar-se das opiniões pessoais de um político em específico que alegadamente capitalizou mediaticamente por fazer comentário desportivo a favor de um clube de futebol, corresponderia, se aceite, a assinar a certidão de óbito mediático à quase totalidade de pessoas que também o fazem noutro quadrantes profissionais, e que só são alguém para pedir isso porque também conquistaram protagonismo à conta do futebol, muitos recebendo avenças para fazer a mesmíssima coisa que aquele a quem condenam. Custa-me em especial que tal ímpeto sancionatório venha de pessoas que se pensam e apregoam guardiãs da liberdade de expressão e da democracia. Qual liberdade de expressão e democracia?

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