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Sobre a produtividade portuguesa, a cultura do burro de carga, e a aposta nas doses diárias recomendadas no longo prazo ao invés de potência máxima todos os dias

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Marx and Donkey -  Qin Qi 秦琦 (2018)

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Os portugueses têm um misto de veneração e repulsa pelos povos que são mais produtivos e ricos. Os alemães são porventura a nação referência nesta questão, em que o seu desempenho produtivo serve de exemplo e de castigo para assinalar o tanto que temos ainda de avançar e ambicionar até podermos dar-nos por contentes com as nossas prestações. Sendo certo que queremos ser alemães no desempenho mas portugueses na cultura e nacionalidade, fica em aberto como implementar, à escala individual, uma resposta cabal ao défice de desempenho que nos é permanentemente apresentado.

Vem isto a propósito de encontrarmos demasiado por cá uma cultura do burro de carga, na forma de alguém que trabalhar como se não houvesse dia seguinte  para ver se no dia de hoje garante ganhos e produtividade maiores. Quem alinha por este diapasão facilmente trabalha mais horas do que as que deve, e vai-se esgotando a cada dia um bocadinho mais do que é saudável. Fá-lo para ficar bem junto de todos, inclusive de si, e para mostrar que não foi por ele/ela que não se chegou mais além nas conquistas.

Os alemães têm um provérbio que também deveria merecer a atenção dos trabalhadores e patrões portugueses, a de que o diabo mora nos detalhes. A cultura do burro de carga, por cansar as pessoas e levá-las a perdas significativas de discernimento e consciência da sua envolvência, transforma os trabalhadores em plantas ávidas assentes em solo pouco nutrido. Daí à perda de produtividade é um passo natural, porque o se faz hoje a mais é o que fica duplamente a faltar amanhã, por falta de forças, fraqueza de espírito ou frustração de expectativas. A produtividade pode não ser uma questão de trabalhar mais e mais em espaços de tempo específicos, mas antes num exercício de doses diárias recomendadas (DDR) preservadas também no longo prazo.

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