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Sobre as vacinas contra a pandemia, e o risco de casus belli para nações que cavam vantagem ou ficam para trás na fila de acesso

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Job centre queue, Chicago - Mario Carnicelli (1966)

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Pese embora a crise pandémica ter um alcance mundial, as vacinas salvíticas não estão a chegar por igual a todos os cantos do mundo assolados pelo contágio. O acesso a vacinas está a decorrer segundo regras nacionalistas (abastecer primeiro o país ou bloco regional que as produz), políticas (por exemplo, Europa e EUA recusam vacinas russas e chinesas), e mercantilistas (quem dá mais tem prioridade). Estas dinâmicas decorrem à margem da evolução dos contágios, e as autoridades políticas e de saúde ficam encurraladas por contornos arbitrários e de bastidores que pautam o modo como o abastecimento de vacinas prossegue, em alguns casos em manifesto incumprimento de compromissos contratualizados.

A minha atenção vai primeiramente para os países que estarão no fim da linha para receber vacinas, por sinal nações cujo atraso e fragilidades no pré-pandemia já as marginalizava dos palcos da linha de frente mundial em qualquer indicador considerado. Nações africanas são, neste particular, o mais retumbante e escancarado exemplo. O dinheiro em caixa ou poder negocial que várias destas nações conseguem gerar pela riqueza em recursos extratáveis (petróleo, diamantes, minerais) não é suficiente para se igualarem no acesso às vacinas, ficando reféns de fornecedores que pretendem consolidar influência política ou económica (China, Rússia) nessas nações. Outras há, ainda, que nenhum poder negocial têm, e essas ficam mesmo à mercê das sobras, no tempo que elas ocorrerem. Até lá resistem como se não houvesse vacina.

Mas a minha atenção vai também para as duas nações que mais se destacam na vacinação: Israel e Emirados Árabes Unidos. É para mim um desplante que estes países tenham taxas altíssimas de vacinação (entre 50-70 %) à data em que escrevo, contra valores 20% em nações produtoras de vacinas, e quando a média mundial é na ordem de 2%. Não compreenderão estes países que tal supremacia pode ser geradora de tensões, ódios, em suma anticorpos políticos, religiosos ou étnicos? Quem cava vantagens numa fase tão dramática para a humanidade como esta, arrisca muito, porque podem tais circunstâncias consubstanciar casus belli contra tais nações. Se não chegar estes termos extremadps, podem tais atrevimentos dar força pelo menos a ressentimentos, e tudo isto era evitável se estas nações soubessem manter o seu lugar na fila, ao invés de usarem de vantagem para contornarem a fila e avançar com prioridade.

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