Rescue: The Handoff - Mark Adams (2019)
A história com final feliz do resgate de uma menor de idade que se perdeu no mar algarvio durante quase um dia inteiro após uma atividade lúdica junto à costa que se descontrolou suscita naturais reações de espanto, esperança, surpresa, e mostra como a vida é repleta de inesperados e improbabilidades, algumas delas com final feliz.
Não obstante, esta história tem como palco o mesmo mar onde milhares de migrantes desesperados por fazer uma travessia furtiva para território europeu, acabam por naufragar e morrer, incluindo mulheres, crianças, ou idosos. Pessoas que se deixam perder mar adentro na esperança que a improbabilidade lhes reserve também um resgate feliz. Tal situação é acompanhada por um assobiar para o lado pelas autoridades e sociedade civil de vários países europeus, a ponto de muitas organizações não governamentais terem barcos de resgate destas pessoas para mitigar tanta desgraça. Barcos de resgate cuja atividade ou é considerado ilegada ou é regulada por regras tão obtusas como a obrigação de ter de aportar no porto mais próximo mal efetuem um único resgate (disparando os custos destas operações autofinanciadase com isso recreando-as).
Os aplausos e triunfo associados ao resgate desta menor suscitam dilemas de consciência, até porque o resgate foi realizado por um navio de transporte comercial que não teve de aportar porque as próprias autoridades portuguesas foram de helicóptero resgatar a menor. Por não ser migrante teve direito a estas regalias - e ainda bem - do estado português. A isso e a uma deveras exaustiva cobertura da imprensa. Está tudo certo, mas a consciência não permite dissociar todo este aparato e regime de exceção, à regra silenciosa de milhares e milhares de pessoas a morrer neste mesmo mar, na esperança de encontrar do outro lado quem as receba, resgate, e por elas se interesse.
Sem comentários:
Enviar um comentário