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Sobre o estarrecedor filme Filomena, o ubíquo e multifacetado problema de relação da Igreja com a sexualidade, e a urgência de mudar de paradigma

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Assistir ao filme Filomena no contexto atual da Igreja Católica, achacada por escândalos incontidos de abusos impunes de membros do clero a crianças, freiras, outros membros internos ou externos, e cruzá-lo com o modo como o estatuto e diplomacia eclesiástica conseguiu repetidas vezes abafar, ilibar e minorar a gravidade dos mesmos escândalos, é um parto difícil.

E escrevo parto porque é em torno disso que este filme orbita, pois tudo começa com o parto de uma menor de idade numa congregação de freiras irlandesa no seguimento de uma gravidez não planeada, e a venda da criança para adoção nos EUA, com posterior rutura de elo entre mãe e filho, e à revelia da vontade daquela. A história é baseada em factos reais, e portanto é assustador perceber que nos ditos escândalos atuais da igreja católica, tal como no escândalo que é esta história, está patente uma questão de fundo que forçosamente terá de ser resolvida pela igreja para que se reencontre e se apazigue definitivamente: a sexualidade é necessária ao homem e à mulher, cumpre uma função vital, e nada tem de pecaminosa a priori.

Também neste filme, o que está indiretamente em causa é o voto de castidade que os integrantes de estruturas católicas têm de fazer, desde logo porque, sob a aura de uma castidade imaculada, as freiras que venderam a criança e a afastaram da mãe acham que a haver alguma culpa no processo é a culpa de quem cedeu inicialmente aos desejos carnais. O resto não é culpa, é pena moral a cumprir, sob a capa de um prazer perverso de ver castigada quem ousou não ser casta, mesmo que não tendo obrigação formal de o ser (e portanto ser livre de o não ser). Um grande filme, repleto de pertinência nos tempos que correm.

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