Procurar:

Sobre o Festival da Canção enquanto fórum cultural mais bem sucedido no país, e o que está latente na preferência nacional pela arte de Conan Osíris

Share it Please


O Festival da Canção é porventura o fórum cultural mais bem sucedido no país. Peritos e não peritos ouvem e avaliam, votam e elegem, e o processo criativo é democraticamente julgado e refinado ano após ano. O recente modelo de convidar artistas estabelecidos ou emergentes a produzir uma proposta de música representante do país não só presta homenagem àqueles que se aventuram numa carreira musical nem sempre orientada (e visível) para as massas, como também cria uma lógica de competição no próprio processo artístico centrada na reação direta à arte criada, e assim saudavelmente imune a critérios económicos como indicadores do sucesso da produção artística.

E é aqui que a arte e criação proposta por Conan Osíris - entretanto eleito como o artista representante do nosso país na edição de 2019 do festival - vem expor junto de todos os pilares sobre os quais efetivamente avaliamos a cultura e o que desta vai brotando. Sem que tenhamos consciência, as nossas reações às músicas propostas para o Festival da Canção assentam em critérios perfeitamente distintos, que julgo ser: popularidade, bom gosto, beleza, e impressionabilidade. Conan impressiona, e fá-lo porque explora o bom gosto e a beleza no sentido inverso do que a cabeça de qualquer pessoa sensata está preparada para encontrar. Com isso potencia a sua popularidade, porque a aversão a cânones estéticos primários consegue ser fonte de popularidade nos dias de hoje. Cativa por isso mesmo, por não se inscrever no expetável.

Quando contrastamos a criação de Conan com a proposta musical vencedora de Salvador Sobral, encontramos nesse duelo o confronto com uma abordagem artística que apontou inequivocamente no sentido do Belo (ideal) e que com isso prontamente se inscreveu no Bom Gosto percecionável pelas massas. Essa foi a força de Sobral: conseguiu ser popular e impressionar pela sublime capacidade de se aproximar do êxtase estético que mora no que se consegue aproximar um pouco mais do Belo. Pessoalmente prefiro como referencial existencial a abordagem de Sobral. Sinto que essa me está mais nos genes do que a exploração da aversão e da repugnância na forma de impressionabilidade e quebra do status quo. Ambas são Arte, mas em sentidos (e utopias) opostos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...