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Sobre o amor: razões para a sua desfiguração

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Pouco no amor pode chamar a si o qualitativo de estático, pois ele vive multifacetadamente quer em concepção, quer em concretização, quer em planificação, quer em extinção ou em conjuntura. O amor resvala do idealismo com que cada um o adorna porque exige do externo uma participação para a qual ele próprio não estando avisado, esbarra na própria concepção que o parceiro possui em si como resultado do mesmo processo formulativo de idealismo aplicado à sua pessoa. Logo à nascença, o amor encetado com outrem nasce desfigurado do amor pretendido como perfeição, pois a acção exercida pelo outrem distorce e anula o controlo de variáveis que se afiguravam como garantidas aquando da projecção em mente. Desse choque de idealismos é gerado um amor intermediário de ambos os projectos, sendo portanto um terceiro formato que ganha vida. Assumindo a continuidade e prevalência do formato no período experimental do amor, o do contacto com esse referido terceiro, o amor muta-se ao sabor do tempo e de cada facto que influi de alguma maneira na relação, podendo evoluir em consistência e certeza, ou derivar para inércia sentimental ou agressividade e rejeição, entre outras legítimas manifestações possíveis.
A desfiguração do amor apresenta-se como consequência da temporalidade da vida e da sua irremediável contextualização. Acima de tudo é uma oportunidade para incrementar valor e profundidade, sendo por isso uma prova da capacidade de alcançar consenso e construir novos esteios sobre aquilo já edificado.
Pode ainda ser visto na perspectiva do tédio da repetição inerente ao entendimento humano, sendo uma resposta a esse problema pela criação de novas soluções para o sentimento do amor, ludibriando a mente do cansaço de ver sem novidade.
Entender a desconfiguração do amor é um passo importante rumo ao cerne do amor, já que cabe a cada um ambicionar crescer no sentimento mais do que se contentar.

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