Untitled - Francisco Nicolas (1990)
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Existe uma grande divisória entre o campo da intimidade física e aquilo a que se poderá chamar, desde que devidamente definida, de intimidade intelectual.
A partilha de espaços conduz o ser humano para situações de relacionamento com pares ditada em exclusivo pela proximidade espacial que se estabelece. Ainda que se alcance um certo à vontade, este tipo de intimidade, que etiqueto como sendo física, é nada mais do que uma ilusória noção da outra pessoa. A forma expedita com que nos expressamos leva comummente a que digamos conhecer determinada pessoa com quem se estabeleceu (nem sempre intencionalmente) uma intimidade física. A pessoa que profere tais palavras saberá que não tem à vontade com a pessoa de quem se diz conhecedor, mas para o ouvinte, a noção que fica é de que existe uma intimidade intelectual que permite a tais pessoas serem próximas uma da outra.
Existe pois uma nuance sempre que nos afirmamos conhecedores de alguém com quem apenas partilhamos espaços físicos. É altura de chamar a noção de intimidade intelectual. De facto, aquilo que sucede é que temos em nosso poder decidir o grau de intimidade intelectual que estabelecemos com cada sujeito com quem nos relacionamos. Isso faz com que o dar-se a conhecer seja uma proposta que parte do próprio e não uma mera consequência da presença/exposição em espaços públicos. A intimidade física rege-se muito pelo lado sensorial, dando azo a expressões como “a sua cara não me é estranha”. Porém, só pela dimensão intelectual é que revelamos o grosso do que somos, pondo a nu uma parte de nós que é vital para que alguém possa dizer que nos conhece.
Sublinho essa componente ativa no processo de intimidade intelectual, já que nem sempre nos damos conta do quanto nos fechamos à intimidade intelectual para certas pessoas, enquanto que, para outras, procuramos dar todo o acesso à nossa pessoa.
Publicação original: 11-06-2008
Revisão: 27-04-2016
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