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Sobre o gostar de hoje e gostar de antes

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148261TYBX_wHá duas gerações, as cabeças eram mais lentas, os gost os mais perenes e o apreciar um acto contínuo no tempo, sem convulsões e atropelamentos provenientes de novos apreciares.

Hoje não é assim e talvez mais útil que verificar se é melhor ou pior, tentação em que todos caímos facilmente, é estar consciente disso mesmo, que hoje não mais assim é.

Antes um álbum musical era ouvido exaustivamente uma vida inteira, porque apreciar era contínuo e o ouvido não cansava tão precocemente como agora.

Os livros davam-se muito à descrição, das paisagens, dos personagens, enfim de todo um conjunto de coisas que hoje levam a que a descrição seja argumento para se desgostar de um livro. Porque o apreciar era contínuo no tempo, não havia pressas, lia-se o livro bem lido, atentando a esses detalhes complementares à história que hoje qualquer leitor moderno gostaria de saltar na leitura.

A visita a um monumento era atempada, com margem para parar numa varanda e apreciar, para depois falar com o porteiro e apreciar ainda mais, não olhando para o relógio a menos de um compromisso importante que se avizinhasse. Hoje não, o entrar num monumento não raro constitui um contra-relógio entre a vontade de ver e paciência para ver.

Certamente por isso o gostar de hoje não é comparável ao gostar no tempo de nossos avós, sendo agora este, aos olhos deles, um gostar superficial fruto de um apreciar passageiro e desprendido.

Dar conta desde choque geracional, tão profundo como a experiência que as duas gerações separa, pode constituir passo primeiro para uma desaceleração da insaciável vontade de saltitar de gostos, de arriscar a gostar de tudo e ao fime ao cabo, aos olhos de nossos avós, gostar de nada.

Até no gostar de pessoas isto se verifica, nos amores de toda uma vida face aos amores de toda uma semana, que hoje prosperam.

Há uma hiperactividade que ensombra tudo aquilo que em nós exige calma e paciência, que passa pelo ensino, educação, pelo escrever ou falar, e que não faz do gostar e apreciar excepção. Estamos num frenesi que nos transforma autênticos saltimbancos do gostar.

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