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Sobre o pavor do senso comum

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329341otVS_w Este é um texto que para os que sentem pavor do senso comum, na sua forma de expressão mais pura, como se encontra amiúde no território nacional, uma forma repleta de brutalidade, um baque de senso comum que esmaga qualquer indício de novidade, interesse, surpresa, uma mixórdia de passividade e estagnação.

Falo do ambiente seco, incolor, insalubre, que paira sobre inúmeras famílias, bairros, instituições ou relações interpessoais.

O pavor resulta da consciência da claustrofobia sentida toda a vez que me demoro em ambientes normais, e como tal avessos ao rompimento das normas da normalidade.

Qual sensação de revisita de um local já memorizado, as conversas são uma ladainha infindável de assuntos cliché, as aparentes novidades resultantes de um facto marcante recente, previsíveis por ser, exactamente, marcante, ou ainda a repetição de conversas esbatidas ao longo de anos, assentes em ideais de poupança, ideais de saúde, ideais de alimentação, ideais de relações ocas apregoadas com pompa mas que vêm à baila ciclicamente, reforçando esse bloqueio mental que é o senso comum.

A constatação do desperdiçar oportunidades de mostrar excentricidade, é uma dos intensificadoras do pavor: a título exemplificativo, refira-se a sensação de entrar numa residência e notar a pasmaceira decorativa, ou nulidade, em que se pode viver. As residências parecem repetir-se numa mesma rua, bairro ou cidade, sendo tudo cópias acumuladas, impregnadas de um pó que pano algum limpará, o pó do senso comum.

Depois o fenómeno natalício, que causa o cabo dos trabalhos pela única razão de que os presentes ditos do senso comum haverem sido comprados e oferecidos em anos antecedentes, e não mais haver senso comum que acuda para encontrar presentes.

Este piloto automático que no fundo é o apavorante senso comum, nas suas vertentes diversas, é o causador da maior parte dos problemas deste país, porque mais do que de hábitos, é um atrofio de mente, uma hipnose capaz de durar toda uma vida.

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