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Sobre os livros emocionais ou racionais ***

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Miscellanea Bibliographica - Erik Desmazieres (2012)

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As motivações para pegar num livro e ler são vastas. Cada leitor tem o direito de seleccionar um livro e colmatar lacunas ou restituir virtudes à sua vida, quaisquer que sejam. Os livros são um universo de juízos parciais. Discutir preferências é bom para quem tiver tempo para gastar com o assunto e nele prazerosamente se perder.

No meu entender existem duas divisões estruturais a aplicar aos livros: há obras maioritariamente emocionais e obras preferencialmente racionais. Depois de já ter provado das primeiras, e me haver extasiado com a forma como das letras pode advir um realismo de fazer suspirar, chorar e comover, mais atenção dou agora às produções racionais, aquelas de onde se extraem informações, ideias, matéria pensável.

Alguns dos livros inequivocamente racionais que já li, tiveram a força de se conseguir ler breves páginas e sentir uma saciedade comparável àquela que sente após uma refeição saborosa e agradável. O leitor pode então parar, deixar o resto da obra para mais tarde, e deleitar-se conjecturando (ou destilando) os raciocínios avançados pelo autor.

Torna-se mais complexo apreciar a literatura emocional após um genuíno apego à racional, não porque seja crível afirmar que se encontra num patamar evolutivo superior, simplesmente porque as emoções são estados de espírito, passageiros, que se esvaem e deixam memórias, contrapondo o que sucede com as ideias, que se digerem e interiorizam, tornando-se parte de cada um de forma cada mais indistinguível. Pese embora a divisão, a combinação dos dois géneros é comum ocorrer numa mesma obra.

As obras maioritariamente emocionais, e note-se que é ilegítimo resumi-las aos romances novelescos, são viciantes de uma forma mais descontrolada e passiva do que acontece com livros racionais, que dependem do leitor (e sua curiosidade inteletual) para que o vício exista e persista.

Numa frase sintetizaria a mensagem desta composição da seguinte forma: a literatura emocional provoca e estimula a nossa natureza, enquanto que a literatura racional procura ecoar e espicaçar a sabedoria de cada leitor.

Publicação original: 20-12-2018 

Revisão: 11-10-2017

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