Expressão que circula pelos círculos comunicacionais um pouco por todo lado, a crise é já uma entidade contemporânea com existência aparentemente comprovada.
Engasgo-me ligeiramente perante a aceitação da existência de uma crise económica, já que, a ser crise, não o é apenas do ponto de vista económico, como soam as trombetas diaramente, mas uma crise bem mais vasta e abrangente: moral, cultural, espiritual, mental ou puramente existencial.
Dessa crise económia que tanto se trauteia, tenho apenas a dizer que para a esmagadora maioria das pessoas o desafio não é maior do que deixarem de consumir os supérfluos que vêm consumindo, como gadgets ou viagens para fora. Para esses, a inexistência da percepção de que é só isto que está em causa mostra bem o quão interiorizado está o consumismo. Convido-os a encontrarem alternativas gratuitas a essas fontes de prazer, bastará uma dieta ao consumismo para a crise desaparecer.
Aqueles que devem preocupar qualquer cidadão são os infelizes que pertecem ao grupo dos empregos sazonais e de baixa qualificação, muitos dos quais somam o desemprego ao martírio social em que vivem, realidades familiares aterrorizantes. Esta sim é a crise, uma crise que antes já existia e que se agrava a cada vez mais ou pelas doenças e falta de recursos para as tratar, ou pelo abandono escolar e a incapacidade de obter melhor formação para si e filhos, ou ainda pela forma displicente com que gerem o dinheiro, por falta de organização mental para se governarem e o gerirem conscientemente. Faltam políticos a vestir a camisola desta causa, a esquerda apoia-se no sindicalismo de sarjeta ou no vazio da demagogia.
A crise económica é uma fracção da Crise, deve muito a outras crises, como à crise moral, que determina a cavalgada da ganância de ganhar dinheiro, ou à crise mental que move tanta gente para os patamares da depressão, alienação, insanidade.
Não nos confundamos quanto à crise, pois tão certinho como elas serem várias e não uma, como pintam os jornalistas e comentadores, é resultar do consentimento de muitos que deveriam ter agido para a combater mais cedo e a quem não lhes bate certamente à porta.
Uma leitura, perfeitamente consentânea, com o meu pensamento, e que o Marcelo Melo, de forma excelente, aqui expôs.
ResponderEliminarMas esta profundidade é incomodativa para muita gente. É muitíssimo mais simpático atribuir-se a fonte da crise a alguns monstros da finança norte-americana, relegando para o esquecimento os monstrinhos portugueses, e as monstruosidades portuguesas que o Marcelo Melo referiu.
Se não fosse o facto de que é muito triste considerar que tem toda a razão, diria que está de parabéns, pois análises destas não surgem na comunicação social. O que lá surge são apenas chavões, palavras feitas...
Caro poeta,
ResponderEliminarDeixe-me principiar pedindo desculpa pelos erros ortográficos deste texto. Anormalmente escaparam à revisão que faço antes de publicar.
Este texto foi difícil de escrever, dada a explosão de coisas que se candidataram a nele constar. Decidi dar-lhe continuidade escrevendo um texto que formalmente não terá relação explícita com este, mas que acercará aquilo que para mim é um ponto-chave.
Até breve,
Marcelo Melo