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Sobre Portugal e a Comunidade Europeia

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291760kPso_w A localização geográfica faz parte da identidade de um país. No caso de Portugal, a pertença ao continente europeu, esbarra na impossibilidade de galgar mar adentro. Mais facilmente se pode questionar a pertença à Europa a outras do que à nação lusa.

O nosso país, desde a entrada na Comunidade Europeia, mudou de paradigma, caindo no que hoje se vê: não mais é o país que faz algo pela Europa, antes a Europa é que faz muito pelo país.

Os fundos comunitários foram o agente persuasor desta dolosa mudança. O impacto do dinheiro fácil vindos dos cofres europeus para financear um pouco de tudo e um todo, muitas vezes, para nada, devolveram à procedência a responsabilidade que qualquer nação deve ter no sentido de se saber gerir e sustentar. Após o regime parasitário do autoritarismo, Portugal despacha o fulgor revolucionário potencialmente benéfico ao se deslumbrar com a Comunidade e seus cofres, perpetrando a inabilidade para se saber pensar enquanto país, instaurada antes pelo ditador.

Hoje a falta de responsabilidade na governação, aliada a uma participação cívica medíocre, comprovam a forma como não há tino próprio nem um rumo que possa reconhecer-se internacionalmente como o rumo Português. Não, estamos condenados a aceitar a Europa como um paternalismo alienador, que nos leva deixar que alguém em Bruxelas resolva e decida por nós o rumo, pois nós concordaremos desde que continuem a chegar verbas para, com a idêntica irresponsabilidade, as gastar a bel-prazer dos eleitos pelo irresponsável povo.

Encapotado sob a bandeira da comparticipação, Portugal endivida-se e entra no despesismo imediato, aquele que constrói coisas vísiveis. Acontece que um país, no actual contexto do mundo, transcende a barreira física e deve investir no que se não vê, com muita ênfase na educação. Esta área, aliás, espelha bem a irresponsabilidade do país, dado que os investimentos em educação pouco ou nada implicam a desactualizada pedagogia, tão carente de reformas, mas sim o edíficio escola, que garante comparticipações.

A Europa é o salvador que nos resolve os problemas todos, de quem esperamos nunca parar de jorrar mesada. Triste tempo este, ó mar nunca dantes navegado!

4 comentários:

  1. Concordo com o que foi escrito.Portugal dependeu,depende e vai continuar a depender demasiado de dinheiros comunitários.A "torneira do dinheiro" esteve aberta durante anos a fio...tinha que secar algum dia.Portugal não irá desenvolver se não tiver uma justiça forte e transparente e uma função publica de excelência.A partir destes 2 principios,deve-se apostar na educação,com uma revolução no ensino superior e secundário, e apostar em energias alternativas.Uma pequena sugestão: Portugal é um país pequeno territorialmente.Porém temos a 11ª maior Zona Económica Exclusiva(ZEE) do mundo.Não é de aproveitar?

    Abraço Amigo

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  2. Caro Kramer,

    A torneira secou porque era esperado que o dinheiro servisse para não mais dele se depender.

    Penso que a educaçao é o mais grave: não em termos de analfabetismo e meros dados estatísticos. Falo das lacunas que uma má educação deixa, que conduzem à incapacidade para discernir eticamente, para haver genuíno interesse pelas causas e para obter respostas criativas e empreendedoras aos problemas que nos vão sendo colocados.

    Vou saber mais sobre a ZEE.

    Abraço amigo,

    Marcelo Melo

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  3. Tristemente digo que somos um pobre povo. Somos pobres economicamente e paupérrimos de mentalidade. Mas essa pobreza não é só de agora. O Século XX viu acontecer em Portugal duas revoluções, que deveriam ter dinamizado o país para um futuro risonho, pois as mudanças foram profundas. O povo exultou de alegria quando chegou a república, e também o fez quando caiu a ditadura. Tanto numa, como noutra, as alterações que, se pretendia fossem profundas, revelaram-se inócuas.
    Eu vivi o 25 de Abril. Sei que país eramos, e que país o povo pretendia que fossemos. Mas, passados 34 anos, concluo que vivemos num marasmo.
    Além do términus da guerra colonial, pretendia-se com o 25 de Abril que se esbatessem as diferenças entre as classes sociais. Por isso eu gritei até à exaustão que «povo unido jamais será vencido».
    34 anos depois, tristemente constato que os dinheiros da UE apenas serviram para fabricar mais ricos. Embora não seja formado em economia, e muito longe esteja dos bastidores da alta finança, além das estraditas que se romperam por esse país fora, poucos mais reflexos vejo dos dinheiros comunitários, anão ser, talves, os carros de alta gama ou as excepcionais moradias, porque é sabido que muitos dos subsídios foram canalizados para interesse particulares, sem que o Estado tivesse montado um sistema de fiscalização à forma como esse dinheiro estava a ser aplicado.
    34 anos depois da Revolução dos Cravos,os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres mais miseráveis. A forma como o Marcelo Melo conduziu o seu texto tocou numa enorme ferida que se me abriu. Não aceito que uma sociedade que diz ter evoluído para uma democracia, tenho um comportamento tão indecente, pecaminoso, imoral...tão anti-democrático. Isto mesmo já o próprio Vasco Lourenço o admitiu.
    Somos provavelmente, na zona Euro, o país que mais dificuldade sentiu e continua a sentir, com a entrada da moeda única. E porquê? Dou só um pequeno exemplo: no dia 31 de Dezembro de 2001, um produto que no mercado custava 120$00, no dia seguinte, 01 de Janeiro de 2002 passou a custar 1.20€, ou seja 240$00. Um aumento de 100%. E porquê? Porque, embora tivessem existido muitos folhetins informativos sobre a nova moeda, nenhum explicou que o aspecto nominal do preço não se poderia manter igual, porque isso a acontecer iria provocar uma escalada nos preços. Isto é português, no mais genuíno.
    Muito sinceramente, coloco muitas reservas quanto à questão de em 2143 festejarmos os 1000 anos de independência.
    Um povo que luta pelo futuro não somos decerto nós.

    Cumprimentos meu caro amigo Marcelo melo.

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  4. Caro poeta,

    Não sei se já leu o livro que lhe irei propor, mas de qualquer forma fica aqui registado como sendo uma obra incontornável para se poder pensar Portugal e os portugueses.

    Chama-se "Portugal Hoje, O Medo de Existir", da autoria de José Gil.

    Cordialmente,

    Marcelo Melo

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