Existe uma crescente probabilidade de nos tornarmos cépticos quando assistimos, a ponto de sermos fulminados, ao desmentir de considerações que até então vigoravam como esteios inquestionáveis orientadores da conduta humana.
Esteios como o da recompensa do bem face ao mal, como o da prevalência da justiça a longo prazo, como o certeza da obtenção de resultados desde que se trabalhe com afinco.
De facto o cepticismo ganha espaço como resposta involuntária ao desespero de perceber que nem sempre o bem recompensa, nem sempre há justiça a longo prazo ou que nem sempre os resultados surgem como consequência do trabalho.
Uma vez envolto em cepticismo, a cérebro não mais se apaziguará perante a ordem do mundo, perante tolerância, optimismo generalizado e inconsciente face ao desenrolar do mundo. Ganha terreno o desespero, a angústia de não mais encontrar tranquilidade naquilo a que uma vida inteira nos quiseram incutir.
E então surgirá um de dois temas: o da loucura ou o do extremismo
A loucura de problematizar algo tão central como as linhas orientadores do género humano, pequenas considerações cuja origem se desconhece por estar diluída nos muitos anos de existência.
O extremismo de transportar o novelo emaranhado que é, no fundo, a realidade, para planos mais objectivos, procurando penetrar nalguma relação causal palpável e contra a qual se pode fazer, de facto, alguma coisa.
É complicado confrontar um mundo que não se apercebe ao mesmo tempo, portanto em simultâneo, dos fracassos dos princípios morais que nos regem, para o advento da mudança. Sem um canal que fale a muitos e possa ambicionar a que esses muitos falem a ainda mais, realmente o indivíduo fica a amordaçado, a matutar para si.
Há pessoas que falam e esquecem, há pessoas que não falam e aparentam esquecer, e depois há o grupo de todos os que querem esquecer e não conseguem.
Ninguém cala a injustiça, porque ela é como a fome, uma manifestação genuína, sintomática de uma intolerância visceral.
Não é meu hábito particularizar, mas convido o leitor a ler este texto quando estiver amargurado por alguma injustiça, e talvez se materialize o espírito de quem o escreveu, na altura do acto em si.
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