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Sobre a distinção de sentimentos

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Em tempos julguei ser possível distinguir diferentes sentimentos que se podem nutrir por uma pessoa, tratando-os como conceitos distintos, semelhantes a gavetas perfeitamente definidas e independentes. Fi-lo por acreditar que era possível dissecar a imagem que uma pessoa suscita na nossa mente. Hoje, contudo, não estou em condições de pensar o mesmo, porque dei conta de como é complicado, a ponto de ser inviável, entender cada como a soma de conceitos escolhidos a dedo. Não. Quanto mim, aquilo que uma pessoa é, representa mais do que a soma dessas partes, porque quando pensamos nela, a nossa mente é visitada por um pacote singular que contém tudo o que a ela diz respeito, um pacote que faz com que se sinta uma única coisa num dado momento.

Cada pessoa que conheço, surge-me na mente como o produto do seu feitio, do seu impacto em mim, das experiências conjuntas e seu contexto, do seu sexo e da sua idade, entre outros. Não as consigo ver como o somatório de coisas diferentes que nada tenham a ver entre si, isso não é certamente uma pessoa.

É inegável que é mais simples dizer que se gosta ou não se gosta de alguém, sem avançar com a adjectivação que sustente tais afirmações, mas talvez para além de simples, seja mais sensato fazê-lo deste modo. A complexificação do que representa cada pessoa para cada um nós, através da introdução de conceitos cuja definição está longe de estar convencionada, é um exercício de total subjectivação que pode conduzir a erróneas conclusões. Basta pensar que um ser humano pouco erudito, poderá saber expressar o seu amor ou paixão através de um simples “gosto de ti”, mas que um outro, mais intruído, tente substituir essa frase simples por uma construção mais elaborada, mas que ainda assim não acrescente mais genuinidade ou objectividade à comunicação que está a ser feita.

Quando se sabe mais, há tendência para querer revelar tudo o que sabe, mas acoplada à sapiência, vem o desafio da coerência, pelo que se recomenda prudência àqueles que arriscam categorizar e dissecar o produto de alguém em nós.

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