A frontalidade é uma modalidade que me diz muito, mas que tem o estranho de dom de ser confundida com muita outra coisa, geralmente dentro de um leque de qualidades negativas.
Aproveito desde já para bifurcar o texto, dando azo ao aparecimento de dois conceitos distintos, o de frontalidade explícita e o de frontalidade implícita. Vejo-me obrigado a fazê-lo na medida em que me apercebo que as pessoas podem defender frontalidades diferentes, conduzindo estas a resultados perfeitamente distintos.
Quando falo de frontalidade explícita, refiro-me a palavras duras, quer para quem ouve ou lê, que ganham em pragmatismo aquilo que perdem em diplomacia. Este é o tipo de frontalidade que pode desencadear vias de facto, que deve ser controlada para que seja usada apenas em casos pontuais, já que é susceptível de conduzir à perda de controlo da situação, a um incendiar de conversas, discussões.
O outro modo, dito implícito, é mais apurado, porque consegue transmitir a mesma mensagem dura, mas por efeito dedutivo, fazendo com que a outra pessoa tenha de discorrer para perceber a gravidade do que se está a dizer. Geralmente, este modo, manifesta-se na pessoa que ouve, através do lançamento de uma questão para o ar, visando confirmar aquilo que ela própria deduziu.
Eu posso dizer que alguém é um idiota, com as letras todas, causando embaraço e exponenciando o risco de perder o controlo da situação, ou então servir-me da frontalidade implícita e dizer à pessoa que quem faz isto ou aquilo (deixando em aberto que ela o fez), é um patife. É a diferença entre a frontalidade elegante e a frontalidade bruta.
Julgo ser importante que todos aqueles que se dizem frontais ou que ambicionam ser, tenham a noção de que a frontalidade não é bruteza, é apenas um pragmatismo e uma sinceridade de pensamento que merece ser tratado de forma elegante, para evitar deslocar a resolução dos problemas para um plano físico, ou que não intelectual.
Antes de encerrar, uma nota de alerta: as bocas costumam ser mais íntimas da frontalidade do que os ouvidos, pelo que toda e qualquer pessoa terá de trabalhar a sua capacidade de ouvir mensagens frontais.
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