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Sobre o ser lido por gente conhecida

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Qualquer pessoa age de uma forma completamente díspar quando se sente observada ou sabe estar a sê-lo, do que agiria caso sozinha se encontrasse. Penso que não há grande novidade nisto, não fosse eu acreditar que este é bom ponto de partida para abordar aquilo que se passa com a escrita.

Como o acto da escrita constitui uma actividade tipicamente solitária, pelo menos atendendo a que o criador do texto se concentra no texto a ponto de se estar absorto para o resto, a sua escrita naturalmente reflecte um estado natural, a menos que a noção de observação também se faça sentir.

Nos textos, ao contrário do que acontece noutras actividades, a noção de observação é bastante focalizada nas pessoas que se conhecem, porque um texto para além do significado literal mais facilmente tangível, pode conter um conjunto de conexões implícitas, ainda que inconscientes ao autor ou mesmo ilegítimas de todo, cujo efeito pode condicionar a vida e a própria pessoa que escreve.

Se eu sair à rua e tentar mostrar muito do que sou, talvez me venha a envergonhar e intimidar pelos olhares indiscretos de gente anónima que se cruze comigo. Na escrita, porém, as leituras de anónimos não afectam tanto a intimidação no autor, como a leitura de conhecidos.

É sabido que alguém que escreve num universo e espaço público como a internet, não tem como garantir que escreva só para conhecidos, mas a verdade é poderá depender tremendamente deles a forma como escreve, assim como aquilo que revela ou oculta em cada texto.

Recorrendo a alguma experiência pessoal que posso avançar, diria que é um completo quebra-cabeças estar motivado para escrever um texto e ser confrontado, no decorrer do exercício de criação, com preocupações laterais ao processo criativo, cujo surgimento pode conduzir à perda de lateralidade e à completa subjugação ao receio que ela encerra.

Embora seja louvável que o ser humano possua uma dose considerável de tento na mente, para não arranjar excessivas confusões, a verdade é que penso ser absolutamente discutível censurar alguém porque se exprime expeditamente por uma via como a escrita, apontando-lhe perigos de o fazer.

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